Folha de S. Paulo


Gargalos na construção de imóveis atrasam obras em até 17 meses

Os gargalos nas etapas da construção de um imóvel atrasam em 17 meses uma obra habitacional e têm impacto de até um quarto no preço final ao consumidor.

Os efeitos do excesso de burocracia foram diagnosticados pela consultoria Booz & Company em estudo elaborado para a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, a partir de pesquisa com empreendedores de diferentes portes e regiões.

Cada empresa apontou os principais entraves em oito etapas da produção (da compra do terreno ao repasse do imóvel); foram analisados 16 gargalos mais significativos.

A partir de notas dadas a cada problema, o estudo conseguiu mensurar que o tempo médio gasto para fazer um empreendimento com recursos da poupança e FGTS é de 57 meses. Se os entraves são eliminados, cai para 40.

Os problemas identificados se referem do plano diretor e do zoneamento a exigências de concessionárias (água, energia), licenças ambientais, cartórios e contrapartidas exigidas em esferas públicas. Incluem ainda prazos de aprovação em prefeituras, registros da incorporação imobiliária, burocracia nos financiamentos e no repasse de valores financiados.

Em média, o custo com todos os entraves faz o preço final do imóvel subir 9%. "Mas há casos em que o peso é de até 24% do valor total. Se o imóvel custa R$ 100 mil, R$ 24 mil são para pagar excesso de burocracia", afirma José Carlos Martins, vice-presidente da CBIC.

Além do custo e de atrasos para realizar a obra, chama a atenção a falta de segurança jurídica, avalia Luiz Vieira, vice-presidente da consultoria.

"Falta clareza na competência de cada esfera do governo em relação às regras de licenças ambientais, que demoram até dois a quatro anos, e em contrapartidas exigidas que vão muito além do entorno da obra", diz.

Há casos em que esses problemas levam um imóvel habitacional a ser construído em 79 meses. "Não estamos falando de uma obra de infraestrutura, uma hidrelétrica. Mas de um imóvel habitacional que demora seis anos e meio para ser entregue."

CORRUPÇÃO

Apesar de o estudo não abordar a corrupção, há indícios da ligação do tema com o excesso de burocracia. Indicadores de 2012 mostram que o Brasil ocupa a 69ª posição em ranking que mede a percepção de corrupção no setor público em 176 países.

Em São Paulo, o Ministério Público investiga esquema de corrupção que envolve fiscais suspeitos de oferecer a construtoras "desconto" em imposto em troca de propina.

Para Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV, o descompasso entre a demanda pela aprovação de projetos e a estrutura das prefeituras aumentou com a expansão do setor. Só as edificações (incorporação e produção de moradias) cresceram 53,7% entre 2008 e 2011.

Há empresas que destacam oito pessoas com curso superior para acompanhar processos de legalização e aprovação. "Antes contratavam-se três engenheiros. Hoje, um engenheiro e dois advogados para atender demandas judiciais na área ambiental e proteger a empresa de efeitos dos atrasos", diz Paulo Afonso Ferreira, vice-presidente da CNI e empresário do setor.

Editoria de Arte / Folhapress

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