Folha de S. Paulo


Restaurante chinês de Eike vive lotado e é alvo de assédio de investidores

Nas duas últimas semanas, seis empresários do ramo de gastronomia procuraram Eder Heck, 33, gerente do restaurante Mr. Lam, perguntando se a casa estava à venda.

O repentino interesse pelo casarão de três andares em uma esquina nobre da Lagoa, zona sul do Rio, onde fica o restaurante especializado em culinária chinesa, veio na esteira das notícias sobre a derrocada de seu dono, o empresário Eike Batista.

Com os prejuízos acumulados pelo Grupo EBX, de Eike, boatos sobre venda de empresas contaminaram até as menores como o Mr. Lam, inaugurado em 2006.

Aos interessados, Heck repete a frase que, segundo ele, ouve sempre de patrão: "Nunca venderei o Mr. Lam". A casa mantém boa ocupação e Heck diz que cada um dos clientes gasta em média R$ 225, num faturamento mensal de R$ 900 mil.

Os repórteres da Folha estiveram no restaurante na última quinta-feira. Chegaram pouco depois das 22h30 e esperaram cerca de meia hora por uma mesa.

O restaurante, do qual Eike é o único proprietário, tem valor financeiro insignificante perto de empreendimentos como a petroleira OGX -cujas dívidas são de R$ 11 bilhões. Mas, para o empresário, o valor sentimental do lugar é incomensurável.

É lá que, antes da crise, ele costumava jantar ao menos duas vezes por semana.

Na última quarta, com a mulher e dois amigos, sentou-se à mesa número 7, de quatro lugares, perto dos janelões com vista para a lagoa Rodrigo de Freitas e diariamente reservada para ele. Um casal de turistas de Goiás se aproximou e pediu para tirar fotos a seu lado. Eike topou.

A escolha da mesa mostra um "encolhimento" dos padrões do empresário. Em outros tempos, preferia a 111, mais ampla, para dez pessoas. O projeto do móvel é de Eike. No meio do tampo de vidro circular está encaixado um motor Lamborghini, da lancha com a qual ele conquistou o Campeonato Brasileiro de Offshore, de 1990.

No mezanino há uma adega de aço escovado, criada pela divisão de design da Porsche e abastecida com 12 garrafas magnum Veuve Clicquot Vintage. As bebidas não estão à venda. Ficam à disposição de Eike.

Quando o empresário não está, a adega fica coberta por uma capa preta, como o monolito de "2001, Uma Odisséia no Espaço", filme de Stanley Kubrick.

"Eike é muito querido por muita gente. Os clientes sempre perguntam por ele e querem experimentar o prato com seu nome", conta Heck, referindo-se ao "Mr. Batista's Prawns": "camarões com molho agridoce transparente de nove especiarias, levemente picante", diz o cardápio.

Pelo terreno, Eike pagou U$ 7 milhões, mais U$ 3 milhões na construção do prédio e US$ 500 mil em equipamentos. Entre eles, o forno de US$ 200 mil capaz de assar 18 patos, pendurados, de uma só vez -dali sai o pato laqueado, a R$ 180.

De Nova York Eike trouxe o cozinheiro Sik Chun Lam, que dá nome à casa e ficou no Rio até considerar a equipe pronta. Em seu lugar ficou Chui Kwok Kam, ou James. "Mais fácil, né?", diz ele.

Atualmente, o restaurante está sob a responsabilidade de Thor Batista, 22, filho mais velho de Eike. "Aqui Eike já recuperou o investimento. O Mr. Lam dá lucro", diz Heck.


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