Qualquer livro que comece com uma descrição de um presidente-executivo de joelhos, vomitando em uma lata de lixo depois de ser traído por amigos e investidores, dificilmente será uma dessas histórias tradicionais sobre fundadores de empresas.
A história da fundação do Twitter é uma saga envolvente, repleta de facadas nas costas. E "Hatching Twitter - A True Story of Money, Power, Friendship, and Betrayal" (No Ninho do Twitter - Uma História de Dinheiro, Poder, Amizade, e Traição") foi lançado na semana em que a companhia de mídia social estreou na Bolsa de Valores.
No livro, Nick Bilton, jornalista do "New York Times", relata a história da empresa, de uma ideia tão simples que ninguém sabia bem o que fazer com ela a um serviço famoso tanto pela presença de celebridades quanto pela presença de revolucionários.
Subitamente, a empresa iniciante chega a um status que leva Snoop Dogg a visitar a sede e começar uma festa improvisada quando descobre que os executivos não estão no escritório; ou um dos fundadores tem de desviar a atenção do então presidente russo, Dmitri Medvedev, durante uma visita à sede, porque o site caiu quando ele ia postar seu primeiro tuíte.
Grandes empresas de tecnologia interessadas em uma aquisição começam a bater à porta, entre as quais Google, Microsoft e --em diversas ocasiões "" Facebook. Há também ofertas muito menos prováveis, como a do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, que virou copos e mais copos de bebida com os fundadores enquanto tentava convencê-los a vender.
| Andrew Burton/AFP | ||
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| Da esquerda para a direira, os co-fundadores do Twitter Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams na bolsa de Nova York |
Mas a história tem por foco dois dos três cofundadores oficiais --Evan Williams e Jack Dorsey-- que se voltaram um contra o outro. Primeiro Evans e depois Dorsey se viram derrubados da presidência-executiva do grupo. E Williams terminou vomitando.
Em uma história incomum para o Vale do Silício, nem Williams, nem Dorsey, nem o terceiro fundador, o discreto Biz Stone, continuam a trabalhar dia a dia no Twitter. Apenas Williams retém participação acionária de mais de 5% na companhia.
O livro acaba no momento em que Dick Costolo, o atual presidente-executivo, assume o cargo. Depois disso, os cofundadores parecem ter feito as pazes e apareceram juntos para promover a oferta pública inicial iminente.
PRIMEIROS TUÍTES
Os melhores momentos do livro são aqueles em que aparecem tuítes, fotos e vídeos como fontes primárias, demolindo os mitos concorrentes dos fundadores para mostrar como a companhia realmente se desenvolveu.
Os primeiros tuítes mostram o pessoal da start-up trocando boas-noites no Twitter como "um bando de crianças dormindo no mesmo quarto" e mostra como o poder do site para promover a discussão de notícias e acontecimentos em tempo real se tornou claro durante um pequeno terremoto na Califórnia.
Mas a história sofre quando o autor recorre a clichês para deixar claro que suas simpatias ficam com Williams, e não Dorsey.
O papel de Dorsey é do usuário estereotipado que recorre ao Twitter para contar o que comeu no café da manhã. Embora pouca gente conteste que a ideia original do Twitter veio dele, Bilton não lhe confere muito crédito porque o Twitter evoluiu e se tornou bem mais que uma ferramenta para falar sobre "o que está acontecendo", o conceito original de Dorsey.
Os clichês chegam a um clímax no fim, quando Bilton imagina Chris Hadfield, um astronauta usuário do Twitter, contemplando o planeta do espaço, em uma cena que sugere que o autor já estava de olho em uma adaptação cinematográfica ao escrever.
Apesar do repulsivo final, o livro explora com sucesso uma história rica que será recontada muitas vezes.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
"HATCHING TWITTER - A TRUE STORY OF MONEY, POWER, FRIENDSHIP, AND BETRAYAL"
&AUTOR* Nick Bilton
EDITORA Penguin Portfolio
QUANTO A partir de US$ 9,65, na Amazon (R$ 22,20, 304 págs.)