Folha de S. Paulo


Dólar atinge maior valor em dois meses com apostas em corte de estímulo nos EUA

O forte crescimento da economia dos Estados Unidos no terceiro trimestre renovou as apostas dos investidores de que o Federal Reserve (banco central americano) deve começar a cortar seu estímulo à economia antes de 2014.

Essa perspectiva provocou a valorização do dólar sobre as principais moedas emergentes nessa quinta-feira (7), uma vez que o corte do estímulo nos EUA pode restringir a oferta da moeda americana nesses mercados, pressionando o câmbio.

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O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em alta de 0,92% em relação ao real, cotado em R$ 2,305 --maior valor desde 5 de setembro, quando ficou em R$ 2,334.

Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve avanço de 1,05%, a R$ 2,307 --também maior nível desde 5 de setembro, quando ficou em R$ 2,324.

Em relação às 24 principais moedas emergentes do mundo, o dólar hoje só teve queda sobre cinco: da Turquia, da Indonésia, da Argentina, das Filipinas e da China.

A economia americana avançou 2,8% no trimestre encerrado em setembro, na taxa anualizada, superando a alta de 2,5% registrada pelo PIB entre abril e junho. O número também superou as estimativas de analistas de mercado, que esperavam um avanço de 2%, e indica o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2012.

Desde 2009, o Fed recompra US$ 85 bilhões por mês em títulos públicos para injetar recursos na economia dos EUA e estimular uma retomada. Como parte desse valor acaba migrando para outros mercados, como o Brasil, a possibilidade de um corte preocupa os investidores.

"Os investidores não estão considerando, no entanto, que o PIB divulgado nos EUA não considera a paralisação do governo americano no início de outubro. Isso vai prejudicar o crescimento acumulado do país no ano. Por isso, continuo achando que o Fed só começará a cortar seu estímulo em 2014", diz João Brügger, analista da Leme Investimentos.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, existem outros fatores que devem aliviar as preocupações com o estímulo nos EUA no curto prazo.

"Um deles é o aumento da taxa básica de juros [a Selic] para dois dígitos, o que deve acontecer em breve. Isso atrairá naturalmente mais aplicações externas ao Brasil, abastecendo a oferta de dólares no mercado", diz.

"Outro fator importante é a entrada dos recursos das empresas que venceram o leilão do campo de Libra, no pré-sal. Parte desses recursos deve entrar no país em dezembro e também trará alívio ao câmbio", completa Galhardo.

ATUAÇÕES DO BC

Segundo operadores consultados pela Folha, o Banco Central pode aumentar suas intervenções no câmbio para conter a alta do dólar, que acumula alta de 2,72% desde segunda-feira (4).

Hoje, o Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio e realizou, pela manhã, um leilão de swap cambial tradicional, que equivale à venda de dólares no mercado futuro.

Foram vendidos 10 mil contratos de swap, sendo cinco mil contratos com vencimento em 1º de abril de 2014 e cinco mil contratos com vencimento em 2 de junho de 2014, por um total de US$ 496,2 milhões.

Ontem, o diretor de Política Monetária do BC, Carlos Hamilton, disse que a autoridade avalia prorrogar para 2014 o programa de intervenções diárias no mercado de câmbio. "[A decisão] Dependerá das avaliações que faremos. Essa possibilidade está aberta", explicou sem dar detalhes dos fatores que serão determinantes para cúpula do BC.

BOLSA

Também refletindo a perspectiva de corte dos estímulos econômicos nos EUA, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou esta quinta-feira em queda de 1,21%, a R$ 52.740 pontos.

O índice, no entanto, chegou a subir quase 1% ao longo do dia, depois que o BCE (Banco Central Europeu) anunciou um inesperado corte no juro básico da região para 0,25% ao ano --menor nível histórico.

O Ibovespa foi fortemente influenciado pela queda das ações mais negociadas de Petrobras (-2,01%) e da Vale (-3,25%) no dia. Esses dois papéis, juntos, representam mais de 16% do índice.

"A Vale divulgou resultados na noite de ontem e os números foram, no geral, bastante positivos. O que aconteceu foi a famosa regra 'subir no fato e realizar no boato'", diz Brügger, da Leme. "A empresa é bastante exposta ao mercado externo. É natural que o mau humor de fora afete negativamente seus papéis", acrescenta.

Beneficiando-se de um preço médio maior para o minério de ferro, a Vale encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido de R$ 7,949 bilhões, valor 139,4% maior que no mesmo período do ano passado. O balanço veio em linha com o esperado.

Também no vermelho, os papéis da Telefêonica Brasil caíram 3,05%, após a companhia ter divulgado queda de 19% no lucro líquido do terceiro trimestre, em um resultado abaixo do esperado pelo mercado, atingido por forte aumento de investimentos no período e alta nos custos.

Em sentido oposto, a Eletropaulo liderou a ponta positiva do Ibovespa no dia, com alta de 9,20%, depois de a distribuidora de energia paulista ter divulgado lucro líquido de R$ 27 milhões no terceiro trimestre, ante lucro de R$ 500 mil no mesmo período do ano passado, enquanto alguns analistas previam até prejuízo para a empresa no período.


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