Folha de S. Paulo


Perfil do cliente define taxas de juros cobradas para o financiamento de veículos pesados

As empresas ou pessoas físicas que quiserem adquirir um caminhão novo têm à disposição diversas linhas de crédito. Entre elas o CDC (Crédito Direto ao consumidor) e o consórcio. Contudo, as opções mais atraentes são as oferecidas pelo BNDES: o Procaminhoneiro, destinado à pessoa física e à pequena empresa, e o Finame PSI (pessoa jurídica).

O banco de fomento tem as melhores taxas de juros (4% ao ano até dezembro) e o maior prazo para pagamento, que pode chegar a dez anos. No entanto, o processo é burocrático e a exigência de comprovação de renda dificulta o acesso aos caminhoneiros e aos pequenos empresários do setor.

O presidente da Fenatac (Federação Interestadual das Empresas do Transporte de Cargas) e vice-presidente da NTC&Logística, José Hélio Fernandes, destaca que o spread bancário (diferença entre as taxas que as instituições financeiras pagam para captar recursos e os juros cobrados do cliente final) pode até dobrar os juros pagos pelo comprador.

"A taxa que começa interessante no BNDES pode aumentar muito, chegando a 8% em alguns casos, devido ao spread", diz o representante da Fenatac. "Apesar de o recurso ser do BNDES, trata-se de livre negociação entre comprador e agente financeiro e são avaliados diversos itens, entre eles o perfil do cliente, o que pode elevar a taxa de juros", comenta.

RISCO
Como o financiamento é feito diretamente nos bancos cabe a eles avaliarem o grau de risco do cliente. As instituições, com receio de inadimplência, fazem exigências que nem sempre pessoas físicas e pequenas empresas conseguem atender.

"Crédito para pessoas com mais dificuldade de comprovação [de renda e documentação] é mais difícil de ser concedido", reconhece o chefe do departamento de financiamento e máquinas e equipamentos da área de operações indiretas do BNDES, Paulo Sodré. "Mas crédito bom [consumidor com boa ficha cadastral] é tranquilo", complementa.

Para Sodré, o cliente deve tentar estabelecer um relacionamento mais próximo com o seu banco, de fidelização. Ele diz que trabalha com associações de classe para tentar melhorar o processo e tornar o crédito mais acessível.

"O BNDES tem recursos baratos e, por isso, é uma excelente alternativa, mas nem todo mundo consegue viabilizar a aprovação do crédito porque os bancos seguem critério rigoroso na avaliação", explica o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), Miguel Ribeiro de Oliveira.

O BNDES liberou R$ 13,3 milhões para a compra de caminhões até setembro. Para se ter uma ideia da expansão deste setor, durante todo o ano passado, a liberação de recursos atingiu a cifra de R$ 7,9 milhões. O tíquete médio dos financiamentos liberados pelo banco de fomento fica em R$ 250 mil, e o prazo médio de pagamento é de cinco anos.

Dados da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras) revelam que só o Finame, crédito destinado às empresas, foi responsável por 78% dos financiamentos de caminhões e ônibus no primeiro semestre deste ano.

ALTERNATIVAS
Quem não consegue financiar o veículo com recursos do BNDES também tem opções. O CDC é uma delas. No entanto, com taxas bem menos atraentes que as da instituição federal. Esse tipo de financiamento tem a vantagem de ser menos burocrático, por outro lado apresenta taxas de juros mais altas -- entre 1,2% e 1,5% ao mês, o que representa, respectivamente, 15,39% e 19,56% ao ano.

Nessa opção, o perfil do cliente também vai definir a taxa, que pode ser, inclusive, acima destes percentuais. A aprovação do crédito é rápida e pode sair em poucas horas em alguns bancos, caso todos os documentos estejam corretos. Com recursos do BNDES, o prazo fica em média em 15 dias, considerando que todos os papéis estejam em ordem.

O consórcio é opção para quem não precisa do bem de imediato. "Se a pessoa está pensando em renovar a frota daqui a alguns anos, essa modalidade é uma boa alternativa, já que tem custo baixo. Não há cobrança de juros ou necessidade de entrada, porém a entrega do bem só ocorre por meio de sorteios, lances ou no fim do contrato, que pode levar até dez anos. E o comprador tem de arcar com taxas de administração, que variam de acordo com a empresa escolhida.

O leasing, que chegou a representar 29% dos financiamentos de caminhões e ônibus em 2007, perdeu força nos últimos anos e hoje significa apenas 1% do total de crédito liberado, conforme dados da Anef.

A expectativa, porém, é que com definições em relação à responsabilidade pelo pagamento do IPVA (havia dúvidas se era do banco ou do cliente) e com a redução dos entraves tributários (o mesmo imposto era cobrado por diferentes entes federativos) a tendência, na opinião do representante do BNDES, é que essa modalidade ganhe mercado nos próximos anos. O banco de fomento também oferece a modalidade com taxa subsidiada.

Recorrer aos bancos de montadoras pode ser uma alternativa para quem pretende adquirir um veículo. "Nosso diferencial para competir com os bancos públicos é o atendimento e a velocidade na liberação de crédito", diz o diretor comercial do Banco Mercedes-Benz, Angel Martinez.

O banco da montadora coloca à disposição do cliente tanto os financiamentos com recursos do BNDES quanto o CDC, mas a maior procura é pelo primeiro, que chega a 85% do total. Entre janeiro e setembro o banco Mercedes-Benz liberou R$ 2,8 bilhões de crédito. No mesmo período do ano passado foram R$ 2,5 bilhões, alta de 12%.

O Banco Volkswagen também registrou aumento nos negócios. De acordo com o gerente executivo Ricardo Bonzo, o número de contratos fechados está 6% maior neste ano do que em 2012. O banco tem linhas com prazo de até 60 meses para pagamento -- a média do mercado é de 60 meses.

NO BOLSO
A diferença de valores desembolsados entre o financiamento com recursos do BNDES e o CDC, as duas modalidades mais usadas para obtenção de crédito para troca de caminhões e de ônibus, é bastante significativa.

A pedido da Folha, o representante da Anefac fez os cálculos e constatou que o crédito concedido pelo banco de fomento custa R$ 75,5 mil a menos do que o crédito direto ao consumidor. A conta foi feita com base no financiamento de um bem de R$ 180 mil, com pagamento em 60 meses e sem entrada.

Levando em consideração as modalidades do BNDES, que têm juros anuais de 4%, o cliente vai pagar parcelas de R$ 3.311 e, ao fim do prazo, terá desembolsado R$ 198,7 mil. Já pelo CDC, com juros de 1,5% ao mês, a prestação sobe para R$ 4.570. E o mesmo financiamento vai custar o total de R$ 274,2 mil.


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