Folha de S. Paulo


Leilões de Collor e FHC tiveram ovo, farinha, pontapé e batalha jurídica

O leilão das reservas do pré-sal do campo de Libra, realizado ontem por ordem da presidente Dilma, fez renascer no Rio de Janeiro o clima de guerra das privatizações dos governos de Fernando Collor de Mello (1990-92) e de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Como naqueles tempos, a cidade acordou com medo da violência. O palco dos conflitos, porém, migrou das ruas históricas do centro da cidade para a orla do mar da Barra de Tijuca, zona oeste da cidade, onde se realizou o leilão. Desde cedo, moradores e turistas em trajes de banho dividiram espaços nas areias com manifestantes e soldados da Força Nacional.

Nos anos 90, o epicentro das manifestações era o prédio da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, que ainda operava, antes de ser unificada com a Bolsa paulista e formar a BM&F Bovespa.

As privatizações aconteciam na sala do pregão, onde se acotovelavam representantes dos investidores, do governo e da mídia.
corredor polonês

Em outubro de 1991, quando a abertura da economia brasileira ainda engatinhava, Collor privatizou em leilão a siderúrgica Usiminas, em meio a uma onda de protestos liderada pelo Partido dos Trabalhadores e pela Central Única dos Trabalhadores.

Para chegar ao prédio da Bolsa de Valores carioca era preciso atravessar um corredor polonês formado por manifestantes com paus, pedras, ovos e até sacos de farinha de trigo.

A imagem mais emblemática daquele leilão é a de um dirigente sindical dando um pontapé nas costas do empresário Aristides Corbellini, que seguia para o leilão.

O então conselheiro da Bolsa Aldo Floris foi jogado ao chão. Empresários saíram cobertos de farinha e ovos. Jornalistas foram vaiados e agredidos.

Apesar da violência, o então governador do Estado do Rio, Leonel Brizola, contrário à privatização, não enviou policiamento para o local, deixando os participantes da disputa expostos.

BATALHA DE LIMINARES

Seis anos mais tarde, o tucano Fernando Henrique Cardoso deslanchou seu programa de privatização das estatais federais.

A Companhia Vale do Rio Doce, inaugurou o processo.

A privatização da gigante mineradora estatal virou uma novela. O leilão foi várias vezes postergado, por ações judiciais que pipocavam de todos o Estados.

Advogados de grande renome como Celso Bandeira de Mello, entraram com ações para impedir a venda.

O clima era quente nas ruas e dentro do governo. O então presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que gerenciou a privatização, trocou insultos com Bandeira de Mello pela imprensa.

O leilão da Vale foi levado a cabo o dia 6 de maio de 1997, quando a mineradora foi vendida pelo equivalente a US$ 3,3 bilhões ao Consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional.

Assim que o leiloeiro bateu o martelo, um oficial de Justiça entrou no recinto, com mais uma ordem judicial de suspensão. Mas era tarde demais. Dentro da Bolsa, se ouviam os protestos dos manifestantes, que eram contidos por 950 policiais.

A jornalista ELVIRA LOBATO cobriu para a Folha os leilões de privatização da Usiminas e da Vale


Endereço da página: