Folha de S. Paulo


Especialistas chineses apontam riscos em parceria com a Petrobras

Consideradas fortes concorrentes na disputa pelo Campo de Libra, as empresas chinesas sofrem a resistência de especialistas do país, que apontam riscos e incertezas na empreitada.

Um dos maiores problemas está na exigência de parceria com a Petrobras, "um monopólio que não apresenta grande eficiência em operações petrolíferas", alertou Cao Yin, diretor de energia da consultoria Martec.

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"Se as empresas chinesas tiverem que trabalhar [com a Petrobras] haverá muitas restrições invisíveis", disse ele ao jornal "Dongfang Daily", de Xangai.

Outra preocupação é com os percentuais de conteúdo local para equipamentos e serviços. Além de perderem parte do fornecimento de máquinas, as chinesas temem atrasos caso a indústria nacional não dê conta.

"As empresas chinesas terão que confiar na indústria local para produzir, e é bom que pensem bem nisso", disse Wu Jusheng, diretor para a China da empresa norueguesa de certificação de certificação norueguesa DNV (Det Norske Veritas).

Das nove empresas que depositaram garantias para participar do leilão de Libra, três são chinesas: CNOOC, CNPC e Sinopec, esta em parceria com a espanhola Repsol. Mas a Repsol anunciou nesta segunda-feira que não participará do leilão.

As três grandes empresas chinesas formam o tripé da busca global que o país lançou nos últimos anos por fontes de energia em vários continentes, incluindo a América Latina, para alimentar seu acelerado crescimento econômico.

Neste mês, a China ultrapassou os EUA para tornar-se o maior importador de petróleo do mundo, segundo relatório da agência norte-americana de Energia.

Wan Xuezhi, pesquisador da China National Investment & Consulting, diz que embora as estatais chinesas conheçam os riscos da partilha no leilão de Libra, o que as move são interesses estratégicos, que "vão além dos benefícios econômicos".

Cao Yin afirma que a grande vantagem para as empresas da China em assegurar a parceria com a Petrobras é diversificar o suprimento "para a gigentesca demanda do mercado chinês".
"Outro ponto importante é aprofundar as relações entre a China e o Brasil", disse Cao à Folha, por e-mail.

"São países com economias complementares. A China não apenas oferece um enorme mercado para os recursos naturais brasileiros, como pode ajudar o Brasil a construir um parque industrial independente e moderno como o chinês".

Cao acrescenta que o aumento da instabilidade no Oriente Médio com as revoltas da Primavera Árabe convenceu o governo chinês de que é temeroso depender excessivamente de fornecedores da região e da África.

A participação no leilão de Libra também aponta para uma mudança no modelo chinês de investimento.

"Antes a preferência da China era por campos de petróleo já em operação", diz Cao. "Mas agora essa produção já não atende mais a sua crescente demanda de energia, por isso a China precisa investir em perfuração e desenvolvimento de depósitos, embora o risco seja muito mais alto."


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