Folha de S. Paulo


Xisto, México e ambiente são ameaça aos lucros

O auge da produção do campo de Libra será em 2029, época em que a realidade pode ser bem diferente da atual, devido a mudanças geopolíticas que vêm ocorrendo no setor de energia.

A descoberta de imensas reservas de gás de xisto nos Estados Unidos, a liberação da exploração na parte mexicana do Golfo do México, a necessidade de redução da emissão de gás carbônico, entre outros movimentos que começam a ser observados agora, prometem aumentar a oferta no futuro, e, como consequência, reduzir o preço do petróleo.

A impressão de que o Brasil vai chegar atrasado na festa é compartilhada por uma corrente do mercado, mas mesmo os mais céticos consideram que, pelo tamanho da jazida, o pré-sal brasileiro terá sempre demanda.

"O pré-sal só dará prejuízo se o petróleo chegar a um preço catastrófico de US$ 30 o barril [hoje é US$ 100]", avalia o diretor geral do Cerne (Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia), Jean Paul Prates.

No caso do leilão de Libra, Prates lembra que o óleo já tem endereço certo. "Esse leilão atraiu um perfil de empresa completamente diferente dos outros leilões do Brasil, e eu aposto nos chineses", diz.

Ele argumenta que o perfil das empresas inscritas, a maioria estatais e asiáticas, visa muito mais garantir o abastecimento de petróleo do que obter lucro, ao contrário do interesse das majors (grandes petroleiras privadas).

Para Aloisio Araújo, da EPGE/FGV, escola de pós-graduação de economia da Fundação Getúlio Vargas, o temor de uma perda de valor do petróleo no mercado pode perder força. "A Ásia tem aumentado muito o consumo, e o xisto nos EUA não dura para sempre", avalia.

Ele critica porém o ritmo da exploração do pré-sal, interrompido pela mudança de modelo de concessão para partilha, desnecessário, segundo ele.

"O governo não vai maximizar o ganho que poderia ter com essa venda de Libra, é preciso fazer um desenho de venda melhor para os próximos leilões", sugere.

A critica é a mesma do presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo), João Carlos De Luca. Para tornar os próximos leilões mais atrativos, opina, o governo terá que mudar a posição de operadora única da Petrobras e oferecer áreas menores, que deem oportunidade para a participação de mais empresas.

A previsão do governo é que o segundo leilão do pré-sal só ocorra dentro de dois ou três anos.

Bartek Sadowski/Bloomberg
Trabalhadores preparam tubos que serão usados para o transporte de gás de xisto em unidade da polonesa Exalo Drilling SA, subsidiária da PGNiG, na região de Lubocino, Polônia
Trabalhadores preparam tubos que serão usados para o transporte de gás de xisto em unidade da polonesa Exalo Drilling SA, subsidiária da PGNiG, na região de Lubocino, Polônia

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