Folha de S. Paulo


Veja 8 empresas brasileiras que chamam a atenção internacional

Empresas brasileiras têm recebido prêmios internacionais mesmo estando há pouco tempo no mercado -a Hand Talk, escolhida como a criadora do melhor aplicativo para inclusão social em um concurso da ONU, começou a testar o sistema apenas neste ano.

A maior parte delas oferece serviços baseados em tecnologia da informação, mas usam a tecnologia para diferentes finalidades: educação (Veduca), mobilidade urbana (Meia Bandeirada) e entretenimento (Queremos). O desafio é fazer com que seus serviços deixem de ser considerados só inovadores e caiam no gosto do público.

Brasileiros atraem atenção internacional
Sites fazem escambo de produtos e aulas

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AGRONEGÓCIO

Alexandre Milanetti
Diogo Carvalho, sócio-fundador da Bug Agentes Biológicos, empresa ganhadora do prêmio Pioneiros da Tecnologia
Diogo Carvalho, sócio-fundador da Bug Agentes Biológicos, empresa ganhadora do prêmio Pioneiros da Tecnologia

O Agrônomo Diogo Carvalho, sócio-fundador da Bug - Agentes Biológicos, conta que as pessoas que visitam sua empresa se surpreendem por sua aparente simplicidade. Isso porque a empresa de Piracicaba (SP) tem como credenciais ser uma das 36 mais inovadoras do mundo, segundo ranking do Fórum Econômico Mundial. A inovação gerada pela Bug é o desenvolvimento, em larga escala, de vespas que realizam controle de pragas de modo natural, substituindo agrotóxicos.

Depois que a plantação é colhida, as vespas acabam morrendo, o que não gera desequilíbrio no ecossistema, diz Carvalho.

Vendidas para todas as regiões, exceto a Norte, as vespas da Bug atuam principalmente em culturas de soja e cana-de-açúcar.

A empresa tem unidades de produção em Piracicaba e Charqueado (interior de São Paulo).

Carvalho diz que, apesar da visibilidade trazida pelas premiações, a empresa deve continuar crescendo apenas no mercado interno neste momento, pois ainda existem muitas oportunidades.

Na avaliação de Carvalho, sua empresa deve levar a uma mudança na forma como seus concorrentes atuam: "As multinacionais vão ter de rever seus produtos. Vão perceber que é importante oferecer soluções de longo prazo."

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"EDUCAÇÃO ON-LINE"

Joel Silva/Folhapress
Carlos Souza, 32, dono do site Veduca
Carlos Souza, 32, dono do site Veduca

O empreendedor Carlos Souza, 32, criador da plataforma de cursos pela internet Veduca, conta que pesquisou centenas de modelos de negócios nos Estados Unidos até criar a empresa.
Souza adaptou o modelo de sites como o Coursera, que dão acesso gratuito a aulas de grandes universidades, e legendou o conteúdo disponível.

"Começa-se a inovar copiando. Não adianta ignorar o que os outros fizeram e começar a criar um carro pela roda. Quando você olha o mercado, parte do ponto em que os outros estão", afirma o empresário.

Lançada em 2012, a plataforma despertou interesse rapidamente, diz Souza. Segundo ele, foram mais de 3 milhões de acessos no primeiro ano.

Com isso veio também investimento e visibilidade: em fevereiro, o Veduca anunciou aporte de R$ 1,5 milhão liderado pelo grupo Macmillan.

No mesmo ano, foi apontado pelo site The Next Web como uma das start-ups latino-americanas mais promissoras.

Agora o Veduca busca inovar antes das empresas que foram sua inspiração.

Na semana passada, lançou um curso de MBA de engenharia e inovação dentro de sua plataforma, em que as aulas são dadas por professores da USP e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

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PUBLICIDADE ON-LINE

Marco Gomes, 27, sócio-fundador da empresa boo-box, aprendeu a montar e programar computadores sozinho.

Nascido em Gama (DF), cidade satélite de Brasília, ele teve o primeiro contato com tecnologia por meio de computadores que seus tios traziam ilegalmente para vender -ele conta que os parentes eram muambeiros.

"Com oito anos, um balde de Lego ou um computador eram a mesma coisa para mim", conta.

Rony Maltz/Folhapress
Marco Gomes, 25, é diretor de Marketing e fundador da Boo-Box
Marco Gomes, 25, é diretor de Marketing e fundador da Boo-Box

Mais tarde, essas habilidades o ajudaram a criar a Boo-box, em 2007, com investimento de R$ 300 mil do fundo Monashees. A Intel Capital colocou mais de
R$ 1 milhão na companhia.

A empresa disponibiliza uma ferramenta que possibilita a anunciantes veicular seu conteúdo em sites, blogs e redes sociais.

Além disso, permite que se defina para qual perfil de pessoa a campanha deve ser mostrada, de acordo com critérios como sexo, idade ou poder aquisitivo.

Em setembro, o jovem foi selecionado como uma das seis pessoas mais importantes da publicidade do mundo no prêmio World Technology Awards, que reconhece os profissionais inovadores dos setores de ciência e tecnologia.

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TRANSPORTE

O produto da Meia Bandeirada está em estágio inicial. Mesmo assim, a empresa já foi apontada pelo portal especializado The Next Web como uma das melhores start-ups que oferecem serviços para outras companhias no Brasil.

André Insardi, 26, sócio-fundador da empresa, conta que a ferramenta que eles desenvolvem possibilita que grandes empresas diminuam gastos com táxis.

Rony Maltz/Folhapress
Meia Bandeirada é um aplicativo para economizar no uso de táxis, via compartilhamento
Meia Bandeirada é um aplicativo para economizar no uso de táxis, via compartilhamento

Para isso, oferecem um aplicativo para celular que permite fazer o pedido da corrida e, em seguida, verifica se mais pessoas farão um percurso parecido e poderiam dividir o carro.
Isardi afirma que muita gente considera que o serviço é tecnicamente inviável. Algo que, segundo ele, faz com que os sócios se sintam mais motivados.

Lançada em julho, a versão piloto da Meia Bandeirada é usada por 15 empresas da cidade de São Paulo.

Insardi conta que a visibilidade atual da empresa se deve principalmente aos resultados que conseguiram em concursos de inovação.

No primeiro que participaram, o Slumdog Beta, realizado na Campus Party de 2012, a empresa foi escolhida vencedora e foi convidada a participar de mais eventos na Inglaterra.

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SHOWS

Os sócios da Queremos, site do Rio de Janeiro que ajuda fãs e bandas a viabilizarem shows, conheceram o principal investidor depois de uma apresentação em um evento para empresas de base tecnológica, o TechCrunch Disrupt, no fim do ano passado, em San Francisco (EUA).

O reconhecimento os ajudou a entrar no mercado dos EUA --eles têm um escritório em Nova York. "Carregamos [a participação na competição] até hoje no site", diz Bruno Natal, 35, um dos sócios. Atualmente, estão ajustando a plataforma para atender melhor produtores de shows e artistas dos EUA -há projetos, por exemplo, para apresentações da cantora Lana del Rey.

Rony Maltz/Folhapress
Em sua sede em Botafogo, Rio de Janeiro, integrantes do Queremos
Em sua sede em Botafogo, Rio de Janeiro, integrantes do Queremos

A Queremos nasceu em agosto de 2010. Uma banda chamada Miike Snow vinha ao Brasil, mas não iria se apresentar no Rio. Segundo outro sócio, Tiago Compagnoni, na cidade "deixam para comprar ingresso em cima da hora; se chove não vão, se faz sol ficam na praia e depois têm preguiça de sair". Por isso, o risco de um show dar prejuízo é grande.

A companhia só faz shows com público suficiente. Eles vendem ingressos antecipados e, se um número mínimo é vendido, fecham a apresentação. Agora, eles também divulgam e vendem entradas de eventos que eles não organizaram.

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COMUNICAÇÃO

A ideia para a criação da Hand Talk, empresa que desenvolve ferramentas tecnológicas para facilitar a comunicação de pessoas com deficiência auditiva, surgiu em uma aula de publicidade em Maceió.

Ronaldo Tenório, 27, sócio-fundador da empresa, conta que em uma aula teve de apresentar uma ideia que solucionasse um problema da sociedade. Ele imaginou a criação de um computador que realizasse traduções do português para Libras (Língua Brasileira de Sinais).

A ideia começou a sair do papel apenas seis anos depois, em 2012 -eles venceram um concurso para empresas iniciantes em Maceió.

Já em fevereiro deste ano, os sócios estavam em Abu Dahbi, nos Emirados Árabes, para receber o prêmio WSA-Mobile -promovido pela ONU- de melhor aplicativo para a inclusão social do mundo.

No sistema, é possível fazer traduções do português para Libras rapidamente.

Após o texto ser escrito na tela do aparelho ou alguém falar uma frase, por exemplo, um boneco chamado Hugo realiza os gestos correspondentes.

Tenório conta que o uso do aplicativo pelas pessoas com deficiência é gratuito.

Para financiar a operação, a Hand Talk vende produtos para empresas, como ferramentas para tradução de sites.

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MODA ON-LINE

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Flavio Pripas, da Fashion.me, uma rede social voltada para moda
Flavio Pripas, da Fashion.me, uma rede social voltada para moda

Se a rede-social de moda Fashion.me surgiu por uma brincadeira, a decisão de se dedicar totalmente ao site foi estudada e testada pelo empreendedor Flávio Pripas e seu sócio, Renato Steinberg.

Pripas conta que criaram o site despretensiosamente, para dar de presente as esposas que queriam abrir uma loja de roupas.

O único investimento foi o tempo dos dois e a hospedagem do site em um servidor, conta.

Porém a rede começou a ter um movimento maior do que o esperado. Nos primeiros meses já recebia 500 visitas diárias, segundo Pripas.

Empregados no mercado financeiro, os dois decidiram fazer uma experiência empreendedora, inicialmente de seis meses, assumindo um risco controlado: "Quando decidimos transformar esse projeto em um negócio, colocamos no papel quanto tempo iríamos nos dedicar e quais seriam as perdas suportáveis nesse tempo".

No caso, a decisão dos sócios era atuar apenas com o dinheiro que tinham de seus empregos anteriores.

Neste período o interesse pela empresa seguiu. Ela era contatada por anunciantes e até um investidor americano, interessado em comprar o site.

Apesar de o negócio não ter saído, esta conversa estimulou Pripas a prestar atenção no mercado internacional e participar de eventos fora do Brasil, diz.

Daí veio o reconhecimento internacional. Em 2012, o Fashion.me recebeu investimentos da Intel Capital e da aceleradora de empresas 500 Startups.

Apesar do sucesso, Pripas conta que em determinados momentos, alguns dos limites que sucessivamente definia como o máximo de perdas que poderiam suportar quase rompeu algumas vezes:

"Foi antes de recebermos o investimento. Precisávamos contratar mais gente para participar e, se não tivessemos fechado alguns contratos, poderia faltar para pagar a equipe".

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MÁQUINAS NA LAVOURA

Edson Silva/Folhapress
 Cleber Manzoni (à esq.), fundador da Enalta e o presidente da empresa, Giandri Machado
Cleber Manzoni (à esq.), fundador da Enalta e o presidente da empresa, Giandri Machado

A cidade de Ariranha, a 379 quilômetros de São Paulo, tem 9.000 habitantes. O engenheiro eletricista Cléber Manzoni, que é natural de lá, foi passar o carnaval de 2013 com seus pais quando soube que a empresa dele, a Enalta, foi escolhida como a 43 ª mais inovadora do mundo segundo uma das principais revistas que cobre o mundo de start-ups (negócios iniciantes de base tecnológica), a Fast Company.

A volta de carnaval foi animada, conta Manzoni.

A Enalta desenvolve aparelhos para tornar máquinas que são usadas em lavouras mais eficientes.

Manzoni explica: "O aparelho melhora a performance da máquina monitorando as situações operacionais e atuam para melhorar a performance. Na tela o operador vê se deve acelerar o trator ou se deve ter outra reação".

Uma colheitadeira que para no campo por falta de combustível, por exemplo, irá gerar custos por conta dessa interrupção. Com os dados que ele fornece, sabe-se com antecedência quando isso irá acontecer e reabastece-se a tempo de evitar a interrupção na colheita.

Desenvolver tecnologia no campo, segundo o empresário, é algo complexo, pois envolve diferentes disciplinas, como biologia e engenharia. "E é preciso trabalhar em ambientes severos, com chuva e sol forte. São poucas empresas de tecnologia que se aventuram", afirma.

A colocação na lista da Fast Company, até agora, ajudou os sócios a fazerem novos contatos, mas nenhum negócio saiu por conta da aparição da Enalta na lista.


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