Folha de S. Paulo


OGX diz que não pagará US$ 45 mi em juros a credor estrangeiro

A OGX, petroleira do empresário Eike Batista, informou que optou em não pagar juros no valor de cerca de US$ 45 milhões como remuneração a bônus emitidos no exterior que venceriam nesta terça-feira.

A empresa informou que suspendeu o pagamento por 30 dias, período no qual continuará negociando com os credores. A recuperação judicial da empresa, apontada por analistas como a melhor saída para a OGX, pode ser decretada nesse intervalo.

A expectativa do mercado é que nas próximas duas semanas a OGX e a OSX, de construção naval, entrem em recuperação judicial.

Reportagem da Folha mostrou que representantes da empresa já têm procurado bancos em busca de linhas de crédito específicas para empresas em recuperação judicial.

A OGX contratou como assessores da negociação o banco de investimentos Lazard e Blackstone, que negociam também com os detentores das notas emitidas pela OGX Austria.

Os juros que teriam de ser distribuídos nesta terça-feira eram referentes a uma dívida de US$ 1,1 bilhão em bônus, com vencimento em 2022, emitidos pela OGX Áustria, controlada da OGX.

A decisão desta terça-feira já era esperada pelo mercado diante das dificuldades de caixa enfrentadas pela companhia. A petroleira só tem recursos disponíveis até o fim deste mês.

As ações da empresa caíram quase 5%, a R$ 0,19, o valor mais baixo já registrado, mas inverteram a tendência e eram cotadas a R$ 0,23, com alta de quase 10%. O papel já chegou a valer R$ 23.

FRUSTRAÇÃO

A derrocada da empresa no mercado acompanhou a frustração com a campanha exploratória, que nunca conseguiu entregar aos acionistas os resultados prometidos.

Declarações de Eike feitas no ano passado, informavam que a petroleira iria produzir 50 mil barris de petróleo por dia este ano.

A maior aposta da OGX, Tubarão Azul, na bacia de Campos, resultou em uma produção muito abaixo do esperado desde o início, registrando cerca de 5 mil barris diários, contra expectativa de 15 mil barris diários alardeado pela empresa.

Por problemas operacionais, não produziu uma gota de óleo em agosto. O campo deve ser desativado em 2014.

Em julho, a empresa anunciou também que não iria desenvolver campos que havia declarado comerciais: Tubarão Tigre, Tubarão Areia e Tubarão Gato.

A parceria com a malaia Petronas também não foi adiante, com a estrangeira aguardando as negociações com credores da OGX para confirmar a compra de 40% do campo de Tubarão Martelo, nova aposta para tentar obter alguma receita e aliviar seu caixa.

Além disso, devolveu 9 das 13 concessões adquiridas na 11ª rodada de licitações de áreas de petróleo da ANP (Agência Nacional do Petróleo), dando indicações ao mercado que a situação da companhia estava se agravando.

REPUTAÇÃO

A derrocada do grupo motivou afirmações até de membros do governo. O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o episódio afetou a reputação do país e tem prejudicado o desempenho da economia brasileira.

"A situação da OGX já causou um problema para a imagem do país e para a Bolsa da Valores que já teve uma deterioração de 10% por conta dessas empresas", disse ontem em São Paulo.

Contrariando a afirmação de Mantega, porém, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) negou nesta terça-feira que o anúncio de calote possa afetar a credibilidade do país no exterior. "Eu acho que a economia brasileira é muito sólida, muito grande, está muito consolidada. É claro que qualquer fato que repercuta no mercado cause algum estranhamento, um desconforto nos investidores, mas não acredito que faça mudar a trajetória geral da nossa economia".

"E não estou dizendo isso porque é o Brasil, não é nenhum ufanismo. É uma constatação dos fatos. Se fosse assim tão importante um fato ou outro, a quebra do Lehman Brothers teria liquidado com a economia americana. E tal não aconteceu. Então eu tendo a ver com olhos um pouco mais, não digo otimistas, mas mais cautelosos", completou.

Ele ainda disse que o governo está acompanhando "com interesse" o anúncio de calote da OGX. "Nós estamos fazendo o que é possível para que a empresa consiga produzir resultados e atender a expectativa de seus acionistas. Mas não podemos ir além do limite que a lei nos impõe. Então hoje o governo simplesmente acompanha, torce para que dê certo. A gente confia que o empresário Eike Batista vai superar essas dificuldades que ele está vivendo no seu grupo empresarial", disse o ministro.

Com São Paulo e Tai Nalon, de Brasília


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