Folha de S. Paulo


Efeito Eike não motivou as mudanças no Ibovespa, mas pesou, diz presidente da Bolsa

O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, classificou nesta quinta-feira (12) como "histórico" o aperfeiçoamento do principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, anunciado na noite de ontem, e disse que ele não foi motivado pelo "efeito Eike Batista".

"A Bolsa tomou uma das decisões mais difíceis dos últimos anos. É um momento histórico para o mercado de capitais", disse o executivo. Foi a primeira mudança relevante no Ibovespa em 45 anos.

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Com o aperfeiçoamento, ações como as da OGX, petroleira do grupo de Eike Batista, que valem menos de R$ 1 e têm grande volume de transação, estão com os dias contados no índice. A alteração também deve reduzir a participação de empresas grandes, mas que tenham poucas ações no mercado.

"Nós ouvimos todos os segmentos, menos a imprensa", brincou Edemir. "Nós sentimos que tomamos a melhor decisão. A melhor decisão para a Bolsa, para o Brasil e para as empresas. Vinte pessoas participaram do processo, que procurou atender a todos", acrescentou.

Segundo Edemir, a atual crise que passa o Grupo EBX, de Eike Batista, também foi considerada na reformulação do Ibovespa, mas "não foi o principal motivo."

Atualmente, as ações da OGX representam cerca de 4,6% do Ibovespa. Como a ação custa centavos e seu peso sobre o índice é elevado, a menor variação para cima ou para baixo da cotação desse papel já influencia na tendência do Ibovespa.

"Por esse motivo, a intenção de aperfeiçoar o Ibovespa era dar condição robusta para que ele possa representar de forma vibrante o atual cenário das empresas", afirmou Edemir. "Não enxergamos a possibilidade de criar um novo índice de referência como alternativa, pois isso apenas atrapalharia mais o mercado", completou.

MUDANÇAS

A principal mudança na metodologia do Ibovespa foi na forma com que se define os pesos que cada ação terá sobre o índice.

Atualmente, é usado o critério de liquidez, ou seja, empresas com grande valor de mercado, cujas ações têm muitos negócios na Bolsa, tinham maior representatividade no Ibovespa.

A partir de 6 janeiro, os pesos dos papéis sobre o Ibovespa passarão a ser definidos pelo critério de ponderação do valor de mercado do free float (ações em circulação que excluem os papéis do acionista controlador), com limite de até 20%.

Segundo a Bolsa, o limite de 20% visa evitar que o desempenho do índice fique concentrado em poucas ações.

"Hoje essa medida não tem efeito prático porque nenhuma empresa se enquadra nessa situação, mas evita uma concentração no futuro", diz Eduardo Refinetti Guardia, diretor executivo de produtos e de relações com investidores da BM&FBovespa.

Outra mudança no Ibovespa é a exclusão das chamadas "penny stocks", ações que valem menos de R$ 1.

ADAPTAÇÃO

O processo de adaptação da nova metodologia se dará em duas fases: na primeira, de janeiro a abril de 2014, o cálculo dos pesos das ações sobre o Ibovespa será feito a partir de uma média simples entre as metodologias atual e a nova.

"Por exemplo, uma ação que teria peso de 4% pelo critério atual e de 2% no novo terá uma participação de 3% na carteira de janeiro a abril", explica Guardia.

A partir de maio, inicia-se a segunda fase, quando a composição do Ibovespa será determinada apenas com base na nova metodologia.

MAIS REPLICÁVEL

As alterações na metodologia do Ibovespa visam tornar o índice mais replicável por gestores em seus investimentos, com menos distorções.

"Da forma anterior, quando considerava-se apenas o critério de liquidez para determinar o peso de cada ação no Ibovespa, era possível que gestores comprassem mais ações de empresas que estavam caindo e vendessem ações de empresas que estavam subindo. O novo método limpa esse tipo de distorção do mercado", disse.

Segundo Guardia, as empresas que compõem o índice tendem a mudar "muito pouco" a partir do próximo balanceamento, em janeiro. "Temos 67 empresas e 73 ativos atualmente. É o que mais ou menos esperamos para a próxima carteira", completou.


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