Folha de S. Paulo


Brasil fica à frente de Brics em indicador de progresso social

O economista-celebridade Michael Porter, professor de Harvard, apresentou nesta quarta-feira (4) um novo indicador que pretende quantificar o progresso social dos países, e ir além das medidas de desenvolvimento econômico.

Nesse primeiro retrato do Índice de Progresso Social, financiado pela fundação americana Social Progress Imperative, foram apuradas informações de 50 países.

O Brasil ficou em 18º lugar --o que o coloca na melhor posição entre os Brics (acrônimo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e quarto colocado na América Latina. Na frente do Brasil estão a Costa Rica, no 12º lugar, o Chile e a Argentina, ocupando a 14ª e a 15ª posição, respectivamente.

Em entrevista a jornalistas, em evento do instituto Ethos em São Paulo, Porter afirmou que o índice é o reconhecimento de que o crescimento econômico não é suficiente para medir o progresso dos países. "Não podemos medir o progresso social apenas pelo ponto de vista econômico", disse.

Tampouco dados sobre meio ambiente e desenvolvimento social, tratados isoladamente, têm a capacidade de dar respostas sob o avanço dos países.

Porter, que levou dois anos para formatar o índice, diz que o objetivo é dar uma visão geral e holística do sucesso dos países.

Essa não é a primeira tentativa feita por economistas de quantificar benefícios sociais além do desempenho econômico. O IDH (índice de desenvolvimento humano) e o índice de qualidade de vida, da OCDE, são dois exemplos globalmente aceitos. Porter afirmou, porém, que o índice de progresso social tenta ir além.

"O IDH apenas agrega dados de saúde e educação ao PIB", diz. "Quando se coloca dados econômicos ao lado de dados sociais, não se sabe qual é a causa e qual é a consequência".

O índice é composto por três dimensões: básica, que mede o atendimento de necessidades fundamentais, como saneamento básico e moradia; bem-estar, como o acesso à informação e ao conhecimento e a dimensão de oportunidades, em que são computados direitos individuais e tolerância social.

Questões como a tolerância com homossexuais, liberdade religiosa e partidária e a presença da mulher no ensino superior compõem essa parte do índice.

Porter afirmou que, mesmo no quesito de necessidades básicas, há países ricos mal avaliados.

"Não é verdade que a partir de certa renda os países passam a atender essas necessidades", afirmou.

No ranking dos países, o Brasil se coloca entre os países de desempenho médio. Entre os mais bem colocados, estão as nações ricas, como a Suécia e a Grã Bretanha.

Para Porter, isso mostra que existe uma certa correlação do avanço econômico com o social. Sobre o Brasil, ele afirmou que o país está "muito bem".

"O Brasil pode ir melhor, mas o compromisso está aqui", disse. "O Brasil está indo melhor do que esperávamos para um país com renda média."

País com renda per capita mais alta do que a do Brasil, a Rússia ficou atrás.

As piores notas do Brasil foram dadas na área de segurança pública. Nesse quesito, o país ficou em 46º colocado.

ENVOLVIMENTO DAS EMPRESAS

Porter salientou que as empresas podem desempenhar um papel além da responsabilidade social e da filantropia. Segundo disse, é preciso buscar soluções econômicas, de olho nas carências sociais.

"No Brasil, muitas pessoas dizem que devemos nos preocupar com o lucro. Se uma empresa encontrar uma forma de atender demandas sociais e ter lucro, isso significa uma solução".

Ele deu como exemplo uma empresas indiana que desenvolveu um sistema de irrigação que atende 4 milhões de agricultores e que passou a ter valor, rapidamente, de US$ 820 milhões.

"Trata-se de um envolvimento verdadeiro", disse Porter, e lucrativo.


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