Folha de S. Paulo


Análise: Diretores de países emergentes se tornam comuns em órgãos internacionais

É emblemático o fato de o primeiro compromisso oficial do embaixador Roberto Azevêdo como diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) ser o encontro do G-20, em 5 e 7 deste mês de setembro, na Rússia.

Explico: o novo protagonismo do Brasil nas relações internacionais tem como marco justamente a elevação daquele grupo de nações, a partir de 2010, à condição de principal foro internacional para deliberações sobre temas econômico-financeiros.

Sem exagero, esse processo, liderado por nosso país, foi uma das mais significativas transformações ocorridas na governança mundial desde o final da Segunda Guerra. Democratizaram-se as decisões. Outro momento importante foi a vitória na exigência de que a negociação com os emergentes se realizasse em bloco.

Assim, é coerente que o Brasil dirija a OMC. Considerados os antecedentes diplomáticos, talvez não seja apenas uma contrapartida política o fato de Roberto Azevêdo, que venceu a eleição contra o mexicano Herminio Blanco, ter nomeado à vice-diretoria o chinês Yi Xiaozhun. Ou seja, um delegado de país do G8, o francês Pascal Lamy, é substituído por um do G20 e os dois principais cargos do organismo passam a ser ocupados por representantes dos emergentes.

É pertinente lembrar que, desde junho de 2011, outro órgão de grande peso no contexto das relações multilaterais --a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)-- também é dirigido por um brasileiro, José Graziano da Silva. À época, ele derrotou o espanhol Miguel Ángel Moratinos.

O mandato de Roberto Azevêdo na OMC, assim como o de Graziano na FAO, não significa que teremos vantagens unilaterais, como no julgamento de contenciosos comerciais. No entanto, ao ampliar e tornar mais consistente sua participação em organismos multilaterais, o Brasil reduz as disparidades nas decisões. Assim, estabelece um novo equilíbrio nas negociações, conferindo mais peso aos emergentes. Há um ganho, sim, na formulação de políticas internacionais macro.

Nada melhor do que a posse de Roberto Azevêdo na OMC para comemorar a Independência neste 7 de setembro e reverenciar a memória do embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, no transcurso dos 10 anos de sua morte (19 de agosto de 2003), em atentado no Iraque. Em múltiplas frentes, nossa diplomacia política e econômica corresponde à meta, ainda distante, de promover mais igualdade entre os povos.

PEDRO MELO é o presidente da KPMG no Brasil.


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