Folha de S. Paulo


Indústria pisa no freio com estoques, inflação e incerteza externa

A indústria acumulou estoques excessivos nos últimos três meses, viu o cenário externo piorar e sentiu as famílias menos dispostas a consumir diante de uma inflação maior.

Esses fatores abalaram a confiança de empresários e levaram o setor a pisar no freio, manter um comportamento "volátil" e já não mostrar a retomada mais firme vista nos primeiros meses do ano, avalia André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

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Um dado que ilustra tal cenário é a queda na produção média de maio, junho e julho. O saldo desses três meses ficou negativo em 0,6%, primeiro recuo nessa comparação de três meses contra três meses imediatamente anteriores desde dezembro.

Em maio, a produção caiu 2%. Voltou a crescer em junho, com alta de 2,1%. A tendência não se sustentou e o setor registrou perda de 2% em julho em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais (típicos de cada período).

Sob a ótica da produção, o PIB do segundo trimestre surpreendeu e cresceu 1,5% impulsionado pela indústria (que no cálculo do PIB inclui outros segmentos que não são pesquisados mensalmente pelo IBGE, como a construção civil e a geração de energia).

Analistas esperam, porém, que a indústria fique estagnada no terceiro trimestre.

ESTOQUES

"É um período de oscilação muito grande. É um ano de uma volatilidade muito grande como não se via em períodos recentes para a indústria. Não me recordo de uma indústria tão volátil e com tamanha magnitude [de altas e baixas em cada um dos meses] nos últimos dez anos", disse Macedo.

Segundo Macedo, a indústria, de um modo geral, sofre com estoques elevados diante de um consumo mais retraído --em parte, sob impacto da inflação maior, que inibe compra de alimentos, por exemplo.

Os pátios lotados das montadoras, diz, determinaram férias coletivas e paradas de produção, que resultaram numa queda de 5,4% na produção de veículos --a retração de maior peso na indústria como um todo em junho.

Michelle Müller -13.jul.12/Folhapress
Linha de montagem de veículos no Brasil; indústria brasileira mostrou novo sinal de desgaste
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Outros ramos como bebidas, vestuário e papel e celulose, afirma, também acumulam estoques acima do "seu padrão habitual".

Analistas dizem que, além da inflação, a renda e o emprego em desaceleração e a inadimplência também explicam a freada do consumo e explica os estoques maiores de ramos como bebidas e vestuário, por exemplo.

Outro setor que pode sofrer esse impacto é o de farmacêutica, cuja queda de 10,7% de junho para julho foi a segunda mais relevante para a perda da indústria geral.

INVESTIMENTOS

Mesmo a produção de bens de capital (equipamentos e veículos usados em transportes, obras, indústria e outros setores para ampliar a capacidade de produção e categoria que sinaliza o ritmo de investimento da economia) que vinha de uma tendência de alta neste ano, registrou perda de 3,3% de junho para julho.

A fabricação de máquinas e equipamentos caiu 1,6%. Também pesou na queda da categoria a menor produção da indústria automobilística, com destaque para o recuo da produção de caminhões.

Apesar do recuo, a categoria de bens de capital mostra dados positivos quando comparada com 2012. Em relação a julho daquele ano, a alta foi de 15,2% --resultado muito superior à média da indústria. Já no acumulado de janeiro a maio, os bens destinados ao investimento registram crescimento de 14,2% --também acima da indústria 0,6%.

Macedo afirmou, porém, que o resultado acumulado para a indústria geral melhora mês a mês e o crescimento acumulado de 0,6% é o melhor desde novembro de 2011. A indústria fechou 2012 com perda de 2,6%.

SETORES

A queda no resultado da indústria em julho refletiu uma retração generalizada. O dado foi negativo em 15 das atividades pesquisadas pelo IBGE.

Dentre os setores com quedas mais relevantes para o índice da indústria geral de junho para julho, destacam-se veículos automotores (-5,4%), farmacêutica (-10,7%), borracha e plástico (-4,5%), celulose e papel (-3,6%), além de alimentos (-1,4%).

Já as altas de destaque ficaram com refino de petróleo e álcool (3,3%).


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