Folha de S. Paulo


Economistas preveem retração na economia no 3º trimestre

Depois de um primeiro semestre positivo para a economia, analistas preveem um período de estagnação nos próximos meses, com riscos até de retração de julho a setembro.

O cenário mais difícil está no radar, dizem economistas, devido ao pessimismo que tomou conta de empresários e consumidores com a disparada do dólar, a elevação da taxa de juros e os efeitos que os dois terão sobre a inflação e o emprego.

Sem confiança, consumidores seguram compras e empresários, investimentos.

O desempenho mais forte que o esperado da economia no primeiro semestre, contudo, garante uma herança positiva e que fará o crescimento a ficar acima de 2% neste ano, mesmo com uma eventual retração no meio do caminho.

RETRAÇÃO NO 3º TRIMESTRE

Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, é um dos que preveem que a economia pode encolher no terceiro trimestre. Ele observa que a confiança já vinha deprimindo antes da disparada do dólar.

Vendas de veículos mais moderadas e estoques da indústria subindo, segundo sondagens feitas com industriais em agosto, sugerem que o setor industrial deve perder fôlego. "O quadro geral é de um crescimento mais baixo", afirmou Bicalho.

Silvia Matos, da FGV, observa que o efeito inicial da alta do dólar sobre empresários não é positivo.

"Há indícios de que a importação de insumos aumentou nos últimos anos, o que deve aumentar os custos e provocar pressão por repasses de preço", diz.

Ela não acredita que as exportações deverão ser beneficiadas imediatamente.

"Com o baixo crescimento mundial, exportarão para quem? O mundo ainda vive um quadro de elevada ociosidade", afirma ela.

Esses indícios, somado ao aumento dos juros -que aumentam o custo financeiro das empresas e esfriam o consumo -tendem a afetar a economia também em
2014, dizem analistas.

"Os juros subindo, a confiança menor e o câmbio mais alto sugerem um ritmo mais moderado da economia", diz Bicalho, para quem o PIB deve crescer 1,7% em 2014 -menos do que em 2013.

A expectativa de um 2014 de crescimento menor é também de Sérgio Vale, da MB Associados.

"A alta da Selic terá um comportamento relevante de desaceleração num momento em que o mercado de trabalho já está em deterioração", afirmou.

A única chave capaz de inverter esse processo, na visão de André Biancarelli, da Unicamp, são as concessões do setor de infraestrutura.

"São um investimento importante neste momento de perda de confiança", diz ele. "Elas poderiam ter um efeito psicológico neste ano, mas terão mais efeito a partir do ano que vem."

OLHAR NO RETROVISOR

Para economistas reunidos em Campos do Jordão, no evento organizado pela BM&FBovespa, o resultado do primeiro semestre é "imagem no retrovisor".

"[O crescimento do PIB] Veio mais forte do que se esperava. Mas é um pouco como olhar para o retrovisor", disse Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e sócio da Mauá investimentos.

Para Persio Arida, sócio do banco BTG Pactual e um dos formuladores do Plano Real, sair do baixo crescimento requer mais do que impulsos de curto prazo.

"Para crescer mais do que isso, teríamos de ter ganho de produtividade. O ideal é que houvesse uma redução do tamanho do Estado e uma política de adequação fiscal", disse ele.


Endereço da página: