Folha de S. Paulo


Suspeita de cartel colaborou para adiamento do leilão do trem-bala

A suspeita da participação das principais interessadas no leilão do trem-bala num cartel no Brasil colaborou para que a concorrência marcada para sexta-feira fosse adiada.

Conforme a Folha revelou em julho, a empresa alemã Siemens delatou às autoridades antitruste do país que participou de um cartel para o fornecimento de equipamentos para metrôs e trens em São Paulo e no Distrito Federal. Os casos relatados vão de 1998 a 2008.

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Na denúncia, a Siemens aponta que as empresas Alstom (França), Bombardier (Canadá), Mitsui (Japão) e CAF (Espanha) eram as que operavam em cartel no país.

Essas empresas são das poucas no mundo que detêm a tecnologia de construção do trem-bala. Além delas, algumas empresas na China, na Coreia do Sul, Japão, Espanha e na Itália também podem produzir o equipamento.

Na entrevista coletiva para anunciar o adiamento, o ministro dos Transportes, César Borges, disse que o principal motivo para o adiamento era haver apenas um concorrente. Mas o presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística), Bernardo Figueiredo, admitiu que a denúncia do cartel ajudou na tomada de decisão do governo.

As companhias que efetivamente demonstraram ao longo dos últimos quatro anos interesse no projeto brasileiro eram, em sua maioria, as que estão sendo investigadas pela formação de cartel.

A Alstom tinha uma proposta pronta para apresentar na concorrência. Já a Bombardier tinha negociações em andamento com outra empresa espanhola, a Talgo, para entrar no projeto no Brasil.

A Mitsui representa no Brasil os fabricantes japoneses de equipamentos de trem de alta velocidade. Jochen Eickholt, Presidente da Siemens, foi quem pediu pela empresa o adiamento por mais um ano do leilão marcado para sexta-feira.

Ontem, o ministro dos Transportes, César Borges, disse que consultou o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que apura a formação de cartel, sobre se havia alguma restrição à participação dessas companhias no leilão do trem-bala. Segundo ele, a resposta foi negativa.

Isso decorre do fato de que as investigações ainda estão em andamento e, portanto, não há punição para essas companhias. Mas, caso sejam condenadas, elas poderão perder o direito de participar de concorrências públicas no Brasil após a decisão final.

Editoria de arte/Folhapress
O CAMINHO DO TREM-BALA - Desde o início do projeto, o leilão já foi adiado três vezes
O CAMINHO DO TREM-BALA - Desde o início do projeto, o leilão já foi adiado três vezes

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