Folha de S. Paulo


Análise: Lua de mel do Brasil e demais Brics parece ter chegado ao fim

Nos últimos anos, muitos exageros foram proferidos sobre os países do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Diziam que logo estariam entre as maiores economias do mundo -e, no caso da China, a maior do mundo, talvez já em 2020.

Mas os Brics, como muitos outros países emergentes, vêm passando recentemente por uma rápida desaceleração. Qual é o problema deles?

Primeiro, a maioria deles estava superaquecida em 2010/2011, com crescimento acima de seu potencial e inflação em alta. Por isso, muitos BCs apertaram a política monetária em 2011, o que trouxe consequências para avanço em 2012 e continua a se fazer sentir neste ano.

Segundo, a ideia de que as economias emergentes podiam se desacoplar plenamente da debilidade econômica nos países ricos (como Europa e EUA) era absurda.

Terceiro, a maioria dos Brics e alguns outros países emergentes caminharam em direção a uma variante do capitalismo de Estado. Isso implica desaceleração nas reformas que elevam a produtividade e a participação do setor privado na economia, e um papel econômico mais forte para as estatais, bem como maior nacionalismo quanto aos recursos naturais e protecionismo comercial.

Essa abordagem pode ter funcionado em estágios anteriores de desenvolvimento e enquanto a crise global causava queda nos gastos privados, mas agora distorce a atividade econômica e deprime o potencial de crescimento.

Quarto, o superciclo das commodities que ajudou Brasil, Rússia, África do Sul pode realmente ter acabado.

É claro que algumas economias emergentes, mais bem administradas, continuarão a registrar rápido crescimento. Mas muitos deles podem encontrar uma espessa barreira, e seu crescimento e mercados financeiros sofrerão fortes abalos.

NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics e professor de Economia na Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova York.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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