Folha de S. Paulo


Em Portugal, ex-servidor reclama de austeridade

A fila na calçada só aumentava. Ao meio-dia de uma tarde de junho, o ex-servidor português José Freitas, 60, esperava para ser atendido em um centro de apoio a desempregados em Lisboa.

Ansioso, ele segurava uma pasta com os seus documentos e checava o relógio a cada duas perguntas.

Estava lá desde as 9h e não sabia quando seria chamado para tentar uma oportunidade de trabalho. "É a crise", disse ele, olhando para a fila. "Eu nunca imaginei isso a acontecer a Portugal."

7,6 mi ficam sem emprego em 5 anos de crise europeia
Demitido, garçom vira pedinte na Espanha
Venda de objetos obtidos no lixo complementa renda na França

Depois de 14 anos no setor de recursos humanos do governo, Freitas perdeu o emprego em dezembro de 2012. Foi uma das vítimas dos cortes que, até o fim deste ano, podem atingir mais 50 mil funcionários públicos.

Bernardo Mello Franco/Folhapress
José Freitas, demitido após 14 anos de trabalho no governo
José Freitas, demitido após 14 anos de trabalho no governo

Ele diz estar disposto a trabalhar até como gari. "Já deixei pedido para trabalhar na limpeza das ruas. Mas só o que dizem é que não há trabalho", lamentou.

O português repete um discurso comum nas ruas de Lisboa: ataca as políticas de austeridade e acusa o governo do país de se subordinar à troika composta por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

"Os sacrifícios que nós fazemos ninguém vê. Tudo é tirado do povo, nós é que pagamos", afirmou Freitas.

"A troika é quem está a mandar em Portugal. Cada vez há mais pobres, e eles não se importam."

Aos 60 anos e sem ter feito curso superior, Freitas vê pouca chance de arrumar trabalho. De acordo com dados oficiais, o índice de desemprego em Portugal chega a 17,6%. Entre os jovens de até 25 anos, a taxa sobe para 42,1%.

"O país está podre. Nenhum jovem arranja trabalho, nem licenciado e com canudo [diploma]. Quem pode vai para o estrangeiro", disse o ex-servidor público.

Desde que foi demitido, Freitas e a sua mulher vivem com a ajuda de amigos e com o seguro-desemprego que ele recebe, de € 250 (cerca de R$ 730). "É melhor do que nada, do que ficar a andar às ruas", afirmou.

"Se não se pode comer bife, come-se um prato de sopa. O que há de fazer?"


Endereço da página:

Links no texto: