Folha de S. Paulo


Só um consórcio disputa o projeto do trem-bala

Sete das oito concorrentes que disputavam a licitação para o gerenciamento do projeto do trem-bala ligando São Paulo à cidade do Rio foram eliminadas da disputa. Com isso, apenas um consórcio italiano segue no processo.

Todas as empresas foram descartadas porque tiveram rejeitados documentos comprovando a qualificação técnica de responsáveis por áreas específicas no projeto.

Entre os motivos da rejeição, há traduções erradas. Os grupos eliminados ainda podem recorrer.

O gerenciamento é uma das três principais concorrências que serão feitas para colocar de pé o projeto de refazer a ligação ferroviária de passageiros entre São Paulo e Rio.

As outras duas serão a contratação do fornecedor e operador dos trens (marcada para agosto) e dos construtores da linha e estações (sem data definida).

Entre as eliminadas na concorrência -cuja tarefa principal é elaborar um projeto executivo para saber o real valor da obra- estão gigantes estrangeiras do setor de planejamento, como a espanhola Ineco e a francesa Egis, além de brasileiras como a Progen, a Concremat e a Engevix.

A Folha apurou que a eliminação em bloco feita pela estatal EPL (Empresa de Planejamento e Logística), responsável pela concorrência, foi mal vista por interessados no projeto.

Eles apontam rigor excessivo e argumentam que os problemas apontados seriam solucionados com pedidos de esclarecimento.

A EPL, no entanto, disse ter informado aos concorrentes "por meio do edital, as exigências para participação da licitação" e que todas as informações sobre a eliminação estão disponíveis no site da empresa.

Editoria de Arte/Folhapress

ITÁLIA

O único consórcio não eliminado foi o formado pelas empresas italianas Italferr e Geodata --que tem uma subsidiária no Brasil. Esse consórcio ainda terá sua proposta analisada antes de ser declarado vencedor.

Ele estava em terceiro lugar na etapa de preço, com R$ 77 milhões. Na disputa final, o preço seria ponderado com a nota de qualidade dada pela comissão de licitação.

A Italferr é a estatal italiana de ferrovias. O país tem trens de alta velocidade em operação desde 1981, mas a sua malha é menor e mais lenta que a de outros países europeus como a
França, a Alemanha e a Espanha.

DISPUTA

Brasil e Itália estão numa disputa judicial por causa da construção do trem-bala. Em 2006, outra empresa privada italiana, a Italplan, foi escolhida pelo governo brasileiro para levar adiante o trem-bala. A empresa propôs fazer o projeto ao custo de US$ 9 bilhões, sem recursos públicos.

O projeto foi rejeitado pelo TCU e a Italplan passou a cobrar do governo brasileiro o pagamento por seus serviços. Conseguiu, no ano passado, uma sentença judicial na Itália para ser ressarcida em R$ 700 milhões.

A conta da embaixada brasileira naquele país chegou a ser bloqueada para esse pagamento. A Justiça brasileira, no entanto, impediu os desembolsos.

PREÇO

A empresa que for escolhida nessa licitação terá a responsabilidade de contratar um projeto executivo para a obra. Esse projeto vai dar um preço mais preciso para a construção dos 511 quilômetros de linhas ferroviárias.

Em 2008, o projeto do trem-bala foi orçado em R$ 33 bilhões. Mas empresas do setor de construção civil apontam que os estudos iniciais eram insuficientes e que o preço da obra poderia ser até 60% maior que o estimado.


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