Folha de S. Paulo


Google estuda oferecer TV a cabo via internet

Se o Google conseguir o que quer, você um dia pode receber TV a cabo da mesma forma que recebe suas mensagens do Gmail: por uma conexão de internet.

Prenunciando um novo desafio aos provedores estabelecidos de serviços de TV paga, o Google é só um dos diversos gigantes da tecnologia que estão tentando licenciar canais de TV para um serviço de TV paga via internet, de acordo com pessoas informadas sobre os esforços da companhia.

Não há acordo iminente, mas reuniões recentes entre o Google e grandes empresas de mídia que controlam canais de TV indicam uma nova corrida para vender serviços, semelhantes aos da TV paga, via Internet, o que criaria uma alternativa aos atuais pacotes de TV paga que companhias como a Comcast e a Time Warner Cable fornecem a 100 milhões de domicílios nos Estados Unidos.

A Intel está trabalhando com afinco em um sistema semelhante, e empresas como Sony e Microsoft demonstraram interesse no passado por esse tipo de serviço, conhecido como "over the top" porque os canais seriam transmitidos sobre as conexões existentes de banda larga. No entanto, para o sucesso do serviço seria necessário o apoio dos proprietários de canais de TV e, até o momento, ele vem sendo pequeno.

O Google, que também controla o serviço de vídeos online YouTube, o maior do planeta, se recusou a comentar sobre seu interesse no mercado televisivo. Mas ao instigar conversações com os proprietários de canais sobre um serviço que concorreria com os de empresas como a Comcast, a companhia está adotando caminho distinto do escolhido pela rival Apple, que vem tentando colaborar com os proprietários dos canais e com os serviços de distribuição existentes na organização de um serviço de TV via internet.

CONCORRÊNCIA

"O Google sente a necessidade de chegar primeiro que a Apple ao mercado", disse uma das pessoas informadas sobre as reuniões, que não quis se identificar.

O raciocínio da Apple, de acordo com as fontes, é o de que os serviços de TV de próxima geração precisam ser criados em parceria com os distribuidores existentes, em parte por motivos de garantia de qualidade. Um futuro serviço da Apple incluiria uma interface de fácil utilização sobreposta aos canais oferecidos nos pacotes da Time Warner Cable ou da Cablevision.

"A Apple está trabalhando dentro do ecossistema existente", disse uma das fontes.

O que o Google e a Intel, e provavelmente outros concorrentes, têm em mente é mais perturbador e mais difícil. Uma pessoa envolvida em negociações com o Google afirmou que a empresa pode, no final do processo, oferecer apenas um acervo de programas de TV, como a Netflix, Amazon e Hulu já fazem. Mas outros dizem que o Google propôs um serviço de assinatura fácil de usar, que transmitiria diversos canais em tempo real e também programas a pedido, para substituir os pacotes de TV a cabo existentes.

TENTATIVAS ANTERIORES

O Google, que tem como atividade central a publicidade, já tentou conquistar espaço no mercado televisivo no passado. Negociações anteriores com os proprietários de canais, em 2011, não obtiveram sucesso. Uma tentativa de criar um sistema automatizado para compra de tempo publicitário na TV terminou abandonada no ano passado. A banda larga, enquanto isso, continua a ganhar popularidade e vem se tornando disponível para cada vez mais consumidores, o que estimula o interesse por alternativas, na distribuição de conteúdo televisivo.

Os esforços renovados do Google foram noticiados inicialmente pelo "Wall Street Journal", na terça-feira. A Intel também está tentando criar um serviço de TV "over the top", mas esbarrou em obstáculos criados pela Time Warner Cable e outros serviços de distribuição de TV já estabelecidos. Eles incluem contratos entre os distribuidores existentes e certos proprietários de canais que proíbem o licenciamento da programação desses canais a novos concorrentes, como a Intel. Um porta-voz da Intel se recusou a comentar na terça-feira.

Outro desafio envolve proprietários de canais como a Disney e a Viacom, que podem ou se beneficiar ou sofrer grandes prejuízos com os sistemas "over the top", a depender de como a situação venha a se desenrolar. Alguns proprietários duvidam que exista grande mercado para programação de TV via internet, para começar, e estão contentes com os três métodos de distribuição já existentes: operadoras de cabo como a Comcast, operadoras de TV via satélite como a DirecTV e a Dish Network, e operadoras de redes de fibra óptica como a Verizon FiOS e a U-Verse, da AT&T.

Mas se a Intel, Google ou qualquer outra empresa conseguir sucesso na venda de um pacote semelhante ao da programação de TV a cabo, os distribuidores existentes provavelmente começariam a fazer a mesma coisa. Isso representaria uma imensa transformação para o setor de cabo, cujas empresas tradicionalmente sempre se limitaram aos seus limites regionais e evitaram concorrência direta.

Um dos motivos para a recente tentativa infrutífera da DirecTV para comprar o serviço online de filmes e TV Hulu era que o site poderia ajudá-la a se posicionar para o mercado "over the top".

Uma das menores operadoras de cabo dos Estados Unidos, a Cox Communications, já está experimentando o equivalente a um serviço "over the top" no condado de Orange, Califórnia. Lá, a companhia começou recentemente a vender um pacote de quase 100 canais aos seus clientes de serviços de banda larga mas não de TV a cabo. A empresa definiu o projeto como "pequeno teste" e se recusou a comentar sobre os resultados, na terça-feira.

"Estamos apenas no começo do processo, e a reação dos clientes determinará se teremos ou não planos futuros para esse produto", disse Todd Smith, porta-voz da Cox.

DESAFIO

Um serviço de TV transmitido por Internet teria provavelmente de concorrer pela qualidade - por exemplo, mais espaço para gravação digital de programas - e não em preço. Isso acontece porque, como definiu um relatório do Serviço de Auditoria do Governo, no mês passado, "as redes em geral oferecem descontos significativos com base no número de assinantes que um provedor tenha. Assim, a desvantagem mais substancial de um novo concorrente diante de um operador estabelecido é que ela provavelmente terá custos mais altos de compra de programação, o que fará do ingresso no mercado um desafio".

Mas o Google, Intel e outros que estão de olho no mercado de televisão são empresas dotadas de amplos recursos. E há outra coisa que as favorece: nas pesquisas de satisfação dos consumidores, são muito mais populares que as operadoras de cabo.


Endereço da página: