Folha de S. Paulo


Dólar não voltará para o patamar do início do ano, afirma Luciano Coutinho

Com cortes nos gastos públicos à vista, a "calibragem fiscal precisa ser cuidadosa", avalia Luciano Coutinho. O governo, diz, precisa levar em conta a redução do gasto privado que pode ocorrer com a desaceleração da economia.

Governo de Dilma não apostou sozinho em Eike, diz presidente do BNDES
BNDES oculta reuniões de Coutinho com empresários

Na entrevista concedida à Folha na última quinta, em seu escritório em São Paulo, o presidente do BNDES afirmou também que não espera que o câmbio recue ao patamar de janeiro. Leia a seguir. (VALDO CRUZ E RAQUEL LANDIM)

Eduardo Knapp/Folhapress
Coutinho, em entrevista, diz ver
Coutinho, em entrevista, diz ver "cobrança desfocada da realidade do Brasil"

*

Folha - O dólar não deve voltar a ficar abaixo de R$ 2,10?

Luciano Coutinho - Não volta ao patamar do começo do ano. Fizemos um teste de estresse com o câmbio fechando o ano a R$ 2,30 e é perfeitamente palatável para a estrutura empresarial brasileira absorver o impacto. Não estou projetando esse câmbio, foi apenas um teste de estresse. É diferente do que ocorreu [no início da crise global] em 2008, quando houve pesadas perdas provocadas pelos derivativos de câmbio. Qual é o desafio paralelo a isso? Administrar os efeitos do câmbio na inflação. É imperioso manter a inflação sob controle. É uma orientação de governo.

O setor empresarial critica a taxa de retorno do programa de concessão. Isso pode afetar os leilões e pôr em risco o crescimento do país?

Não creio, porque o governo ajustou vários fatores. O que tenho verificado nas consultas ao banco é que teremos muitos interessados. É preciso diferenciar o que se diz em público para conseguir melhorias adicionais e o que observamos no diálogo individual com as empresas.

Após os protestos, Estados e municípios seguraram reajuste de tarifas. Isso vai afetar o interesse dos investidores?

Pelo que entendi, as tarifas de pedágio serão compensadas, protegendo os investidores. Logo, não vai criar efeitos negativos sobre as expectativas. O meu sonho é que a taxa de investimento chegue perto de 19% do PIB neste ano e dê um salto adicional em 2014.

O BC subiu os juros. O senhor vê necessidade de um ajuste fiscal mais rigoroso para ajudar a controlar a inflação?

A gestão macroeconômica precisa avaliar o andamento da economia. Ainda não sabemos qual será o impacto dessa transição, que pode afetar o crescimento negativamente. A calibragem fiscal não é algo trivial. Tem que ser muito cuidadosa. A orientação da presidente é manter a inflação sob controle.

O sr. teme que um arrocho forte derrube o crescimento?

O que estou dizendo é que precisamos considerar o que já aconteceu na esfera privada. Se houver uma redução do gasto privado, vai ter impacto. É claro que a política fiscal deve ajudar a política monetária e trabalhar coordenadamente. O mercado exige, às vezes até por cacoete, que se tomem certas iniciativas.

É preciso calibrar inflação e crescimento na política fiscal?

Sim.

Mas a credibilidade do governo na área fiscal foi muito questionada após a contabilidade criativa. Isso não prejudica a calibragem?

Eu olho para os resultados. A trajetória de dívida do Brasil é invejável. Acredito que haja uma cobrança desfocada da realidade do Brasil.


Endereço da página:

Links no texto: