Folha de S. Paulo


Análise: Incidente da Boeing não poderia vir em pior hora

Não poderia vir em pior hora para a Boeing o incidente com o 787 da Ethiopian. O modelo havia voltado a voar regularmente no fim de abril, após uma proibição que durou três meses.

Em janeiro, incêndios e episódios de fumaça a bordo colocaram as baterias da aeronave sob suspeita, obrigando o "recall". O problema parecia ter sido superado.

Pelas imagens disponíveis, o caso de ontem lembra o incêndio ocorrido num Boeing-787 em Boston, no dia 7 de janeiro.

Naquele incidente, o fogo começou em baterias localizadas perto do estabilizador vertical da cauda, justamente a região que aparentemente foi afetada ontem.

Lá ficam 2 dos 6 geradores auxiliares de energia do avião, alimentados por baterias, e não pela eletricidade decorrente do movimento da turbina durante o voo. Há baterias também na parte frontal do avião, sob o assoalho.

Uma característica inovadora do 787 é que ele trocou muitos sistemas mecânicos de controle por outros elétricos e dependentes mais dessas unidades próprias. O avião usa até cinco vezes mais eletricidade do que os modelos atuais em uso.

Isso gera, devido à redução de peso e aliado ao uso intensivo de materiais leves como fibra de carbono na estrutura, economia de combustível na ordem de até 20%.

O que especialistas questionam é se essa autossuficiência não gera sobrecargas. E que podem, ou não, ter algo a ver com o incidente de ontem no Reino Unido.

Teme-se na Boeing a "síndrome do Comet", em referência ao inovador jato britânico dos anos 1950 que nunca reconquistou a confiança do público após aciden- tes por problemas que foram corrigidos.

A comparação é exagerada, até pela escala dos investimentos (US$ 32 bilhões em desenvolvimento) no 787, mas um sinal está aceso.

Por fim, há a ironia: a Ethiopian, que é a única empresa a voar o modelo para o Brasil, foi a primeira a retomar o uso do 787 depois do fim do "recall" neste ano.

Reuters
Equipes de emergência perto do Boeing 787 Dreamliner. Aeronave operada pela Ethiopian Airlines pegou fogo enquanto estava estacionada no aeroporto londrino de Heathrow
Equipes de emergência perto do Boeing 787 Dreamliner. Aeronave operada pela Ethiopian Airlines pegou fogo enquanto estava estacionada no aeroporto londrino de Heathrow

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