Folha de S. Paulo


Análise: Interligadas, empresas X caem em 'efeito dominó'

À medida que o império de Eike Batista desmorona, a sua situação cada vez mais se parece com a construção do Porto do Açu, um dos empreendimentos mais visíveis do empresário e que se assemelha a um monte de areia no meio de um pântano.

Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção de uma, perderam mais de 90% de seu valor desde que atingiram as suas máximas. As ações da OGX Petróleo e Gás, principal empresa do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.

Empresas de Eike têm dívidas com 11 bancos de R$ 7,9 bi
Com grupo EBX endividado em dólar, alta da moeda é preocupação para Eike

Eike, que foi o mais bem-sucedido empresário do Brasil durante o boom de commodities, tem sido obrigado a ver uma das maiores fortunas do mundo desaparecer. Ela encolheu em mais de US$ 20 bilhões e isso lhe custou o título de mais rico do Brasil.

"A situação de Eike é incrível, no sentido verdadeiro da palavra", diz Chris Kettenmann, analista da Prime Executions, corretora de Nova York. "É espectacular ver o quanto de valor foi corroído."

Os empreendimentos da EBX em petróleo, construção naval, energia e transporte podem sobreviver em uma versão reduzida. Eike, porém, provavelmente não será o controlador, sendo obrigado a vender a sua parte para pagar dívidas.

LIGAÇÕES

No ano passado, as "sinergias" e as ligações financeiras entre as empresas do grupo EBX, que ajudaram Eike a vender cerca de US$ 7 bilhões em ações desde 2006, tornaram-se passivos.

Em junho de 2012, a petrolífera OGX revelou que a produção de seu primeiro campo foi menor que o esperado, aumentando as preocupações de que o estaleiro da OSX receberia menos pedidos da OGX, seu principal cliente.

Como a OSX é âncora de Açu, detido pela LLX Logística, do grupo EBX, as ações da LLX também caíram.

E os dominós continuam caindo, graças em parte aos níveis elevados do endividamento das empresas do grupo EBX e à falta de transparência nos negócios com a holding pessoal de Batista, a Centennial Investments.

Ao mesmo tempo em que Eike propôs comprar mais ações da OGX e da OSX para acalmar investidores, ele também trouxe ajudas externas.

Em março de 2012, vendeu 5,63% da Centennial à Mubadala Development Corp, um fundo soberano de Abu Dhabi, por US$ 2 bilhões.

O que Eike não disse na época foi que ele concordou em se desfazer de uma participação da EBX em favor da Mubadala, caso o investimento na Centennial não proporcionasse um retorno anual de 5%, informou a Bloomberg em dezembro.

Desde então, aumentaram as especulações de que Eike luta para cumprir os termos de Mubadala, bem como os de seus próprios banqueiros.

Diante de tal dúvida, nem mesmo a injeção de mais de US$ 1 bilhão da petrolífera malaia Petronas em maio, e em março da alemã E.ON, além do apoio do banco de investimentos BTG Pactual, de André Esteves, conseguiram deter a queda da EBX.

A dívida de Eike é alta, diz Frank Holmes, executivo-chefe da US Global Investors, do Texas, que conhece Eike desde o final da década de 1980.

No final de março, a dívida de longo prazo das empresas OGX, MPX, OSX e LLX, que detém Açu, estavam em mais do triplo dos níveis médios de endividamento de empresas similares e representavam de um terço a um quinto do capital total de cada empresa. Tais níveis implicam grande risco.

FALHA NA GESTÃO

Sem fluxo de caixa positivo ou lucro, pagar a dívida exige que as empresas do grupo EBX gastem um dinheiro que seria mais bem utilizado para concluir projetos e aumentar receita.

O BNDES e o Fundo da Marinha Mercante do Brasil emprestaram ou ofereceram empréstimos à EBX. Eles podem intervir para proteger o seu investimento, mas o fluxo de caixa prometido para o pagamento de dívidas está sendo atrasado pela burocracia brasileira e pelas próprias falhas de gestão de Eike.

"O cara alavancou tudo, e os banqueiros, como todas as outras pessoas, acreditaram na visão dele", diz Holmes.

Para ele, o problema de Eike é principalmente de administração. Há uma década, erros semelhantes forçaram Eike a vender a TVX Gold para a Kinross Gold Corp após projetos de ouro empolgantes na Rússia e na Grécia acabarem sendo levados a um tribunal.

"Eu realmente respeito Eike como um empreendedor visionário, um pioneiro. Ele não é uma fraude, ele não é um mentiroso", afirma Holmes. "Onde há problemas é na execução."

"Eu não sei o que vai acontecer com Eike", disse em entrevista o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Julio Bueno, cujo governo tem ajudado Eike a desapropriar terras para o porto.

"Nós precisamos do porto, e outros investidores querem construir portos nas proximidades. O porto ainda será construído? Sim. É uma boa ideia? Sim. Será Eike o seu controlador? Isso eu não posso dizer."


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