Folha de S. Paulo


Crédito fácil impulsiona crescimento da Colômbia

Até mesmo na favela Ciudad Bolívar, na periferia de Bogotá, os pobres colombianos parecem estar ansiosos por gastar.

"Vai abrir logo!", exclama o trabalhador diarista Alfredo, apontando para uma filial da rede de lojas de material de construção Easy. "Ouvi dizer que vai ser barato e que pessoas como eu vão poder abrir um crediário."

O ânimo dele é sintomático do modo como, enquanto o crescimento perde força em outras economias emergentes, o crédito ao consumidor vem impelindo em ritmo acelerado a economia de US$ 390 bilhões da Colômbia.

Mauricio Dueñas Castañeda -7.jun.2013/Efe
Consumidores em feira de camponeses em praça de Bogotá
Consumidores em feira de camponeses em praça de Bogotá

No país, que possui a terceira maior economia da América Latina e antes era mais conhecido pela cocaína e os conflitos, é o consumo que vem chamando a atenção, especialmente a dos investidores estrangeiros.

É o caso tanto do consumo declarado do centro de Bogotá, onde a herdeira e socialite Paris Hilton acaba de abrir uma butique, quanto da poeirenta Ciudad Bolívar.

Muitos dos 1 milhão de moradores da favela são refugiados do conflito interno do país, que durou 50 anos e hoje é tema de negociações de paz entre o governo e a guerrilha marxista das Farc.

"O consumo continua a ser fonte importante de crescimento, movido pelo desenvolvimento da classe média", diz Alexander Rivero, economista no Bancolombia, maior banco comercial do país.

"Isso nos leva a pensar que o país possui o potencial de continuar a crescer em ritmo forte", completa.

A ascensão do crédito para a classe média é uma história recente que é comum a muitas economias emergentes. Mas, na Colômbia, dilacerada por muitos anos por um conflito civil, esse processo começou mais tarde e partiu de uma base mais baixa.

Enquanto no Brasil, nos últimos dez anos, o crédito dobrou, tornando-se responsável por 50% do PIB, na Colômbia ele representa 45% --uma elevação de 12 pontos percentuais desde 2003.

Hoje o consumo responde por dois terços da economia, enquanto a classe média dobrou nos últimos dez anos e engloba 30% da população.

É uma mudança radical numa economia até há pouco movida mais pelas commodities e pelas exportações manufatureiras leves.

Embora a sociedade colombiana ainda seja uma das mais desiguais do mundo, cerca de 1,7 milhão dos 47 milhões de habitantes saíram da pobreza dos últimos dois anos, segundo o governo.

Esse fato, somado à mudança estrutural dada pela melhora na situação de segurança e a possibilidade de paz, explica a chegada de multinacionais à Colômbia --desde bancos internacionais, como o canadense Nova Scotia, até gigantes regionais do varejo, como a Cencosud, "multilatina" chilena, que no ano passado comprou por US$2,5 bilhões os ativos locais da francesa Carrefour.

Embora não seja imune ao desaquecimento global, a Colômbia deve crescer 4,3% em 2013, segundo o BC local.

O resultado é inferior ao de 2011 (alta de 6%), mas é mais otimista que os 4% previstos no início deste ano e se deve ao recente programa de estímulo de US$ 2,7 bilhões e à queda de 7% no valor do peso desde janeiro, desvalorização saudada pelo governo.

De acordo com o Bancolombia, o crédito ao consumidor se multiplicou por seis nos últimos dez anos, fomentado pelo crescimento do emprego e pelos juros baixo.

Os ciclos de valorização exagerada e estouro de bolha de crédito ao consumidor são outra história já vista em outros países da América do Sul, especialmente no Brasil.

Na realidade, os empréstimos não saldados vêm crescendo recentemente, lembrando a quebra dos bancos colombianos nos anos 1990.

Mesmo assim, os especuladores otimistas observam que a confiança dos consumidores está em alta, depois de uma queda passageira no início do ano, e que ainda há potencial não aproveitado.

"A qualidade do crédito é muito melhor hoje", diz Rivero, observando que dez anos atrás 11% dos empréstimos totais não eram saldados no prazo --hoje são 2,9%.

Tradução de CLARA ALLAIN


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