Folha de S. Paulo


Governo estuda facilitar mais entrada de dólares no mercado

O governo pode adotar mais medidas para frear a desvalorização do real.

Entre elas, está o aumento do poder dos bancos de vender dólares no mercado.

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Isso elevaria a oferta de moeda americana na economia, levando o dólar a perder valor e freando a tendência de queda do real.

Segundo a Folha apurou, o BC pode elevar o teto da "posição vendida" dos bancos em dólares, atualmente em US$ 3 bilhões.

Até esse limite, as instituições financeiras não precisam recolher 60% de depósito compulsório (recursos que os bancos são obrigados a deixar parados no BC).

A medida reverteria uma restrição adotada no início de 2011 no auge da "guerra cambial", período de forte entrada de recursos no país.

Na semana passada, o governo já tinha tomado outra ação nessa linha, ao retirar os 6% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que incidiam sobre investimentos estrangeiros em renda fixa.

Editoria de Arte/Folhapress

DERIVATIVOS

Apesar da ação em estudo pelo BC, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descarta reverter outras medidas tomadas em 2010 e 2011 para limitar a oscilação das cotações. É o caso da alíquota de 1% de IOF cobrada sobre transações no mercado futuro de câmbio (derivativos).

"Não planejamos retirar o IOF dos derivativos", disse Mantega à Folha.

Segundo o ministro, a intenção da tributação é impedir que investidores façam apostas muito arriscadas no mercado, o que aumenta o risco de perdas.

"O mercado de derivativos permite muita alavancagem. Queremos manter a volatilidade baixa", diz Mantega.

O ministro também descarta reduzir o IOF de 6% aplicado nos empréstimos externos de curto prazo.

Mas, segundo a Folha apurou, parte da equipe econômica defende essa mudança, que também estaria em estudo nos casos de empréstimos com prazo de até um ano.

Segundo assessores, o governo seguirá com intervenções para evitar excessos de volatilidade no mercado.

DUAS INTERVENÇÕES

Ontem, o dólar fechou em alta de 0,58%, cotado a R$ 2,146, mesmo depois de o Banco Central intervir duas vezes no mercado futuro.

Foi a primeira vez desde de dezembro de 2012 que o BC fez mais de uma intervenção no mercado futuro de câmbio no mesmo dia.

Para Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências, as intervenções do BC não serão suficientes para conter a desvalorização do real. "Em um momento de crise, o que resolve é atuar no mercado de derivativos".

Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, concorda.

"A única forma de conter a depreciação agora é estimular a entrada de capital especulativo, tirando o IOF sobre derivativos".

A depreciação do real acompanha movimento global de valorização do dólar, que tem sido acentuado pelo fraco desempenho da economia brasileira.

Isso tem levado o mercado a apostar em alta de juros para atrair recursos. A taxa refletida nos contratos com vencimento em janeiro de 2017 fechou ontem em 10,3%, maior valor desde abril de 2012 e bem acima dos juros básicos que estão em 8%.


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