Folha de S. Paulo


Vantagem competitiva em óleo e gás ainda é dúvida, diz cientista-chefe da IBM

Tecnologia de exploração de petróleo e gás é uma das quatro áreas centrais do laboratório da IBM Brasil, ao lado de serviços, acessibilidade urbana e microeletrônica de baixa complexidade.

A área foi escolhida por causa da descoberta do pré-sal, cujas reservas devem permitir ao Brasil extrair 1 milhão de barris por dia em 2017, segundo a Petrobras (mais ou menos a metade da produção atual em todo o país).

Falta continuidade à política científica no Brasil

País precisa fazer ciência como negócio, diz cientista-chefe da IBM

Mas, na opinião do cientista-chefe da IBM, Fábio Gandour, ainda não dá para garantir que o Brasil tem uma vantagem competitiva nesse setor. "O Brasil tem uma oportunidade. Atualmente não estou tão seguro de que tenha uma vantagem competitiva. Porque a oportunidade é a descoberta do pré-sal, mas a vantagem competitiva é a adequada exploração. E há outras coisas envolvidas, que não são só ciência e tecnologia. Aspectos financeiros e investimentos e políticos, royalties..."

Gandour defende a ideia de que empresas que investirem na pesquisa científica como negócio podem ter lucros, e cita como exemplo a descoberta pela IBM do microscópio de força atômica, que deu aos pesquisadores da empresa um prêmio Nobel de física, "o primeiro cujo objeto de premiação não é uma teoria, mas um objeto".

Adriano Vizoni/Folhapress
Fábio Gandour, cientista chefe da IBM, em frente ao prédio da empresa em SP
Fábio Gandour, cientista chefe da IBM, em frente ao prédio da empresa em SP

*

Como isso deu dinheiro para IBM?

Isso mudou o entendimento que a IBM passou a ter dos materiais e o entendimento que o mundo passou a ter dos materiais. Os três pesquisadores em Zurique construíram um instrumento que era capaz de investigar um átomo de cada vez.

Fizeram isso porque alguém encomendou?

Não, fizeram isso porque eles adquiriram conhecimento teórico e prático suficiente para cometer essa ousadia.

Provavelmente eles ficaram uns 3 anos ou mais tentando convencer a linha gerencial de "what porra is that".

Agora no laboratório, isso também acontece?

Não. Nosso laboratório ainda tem muito pouco instrumentação.

É mais um conjunto de cérebros e de boas qualidades. Mas a gente vai devagar criando a instrumentação.

Mas vocês trabalham em projetos encomendados por clientes ou planejados por vocês?

Planejados por nós e que foram solicitados por clientes.

Primeiro veio o quê?

Por incrível que pareça, primeiro a gente submeteu um projeto a apreciação da Finep ele foi selecionado. É um board para pessoas que têm dificuldade de acessibilidade e podem trocar informações de procuro/ofereço. Eu procuro carona, eu ofereço carona.

E o objetivo é fornecer para cidades?

Para cidades, para as instituições envolvidas com a realização dos jogos. Começou aí, mas nós também temos encomendas. Mas quem faz essa encomenda quer que você assine um acordo de absoluta confidencialidade. Porque, o design da solução dá uma vantagem competitiva enorme para quem faz uma encomenda dessas.

E falando em vantagem competitiva. Na área de óleo e gás eu consigo ver que essa área tenha sido escolhida porque o Brasil tem uma vantagem competitiva nessa área.

O Brasil tem uma oportunidade. Atualmente não estou tão seguro de que tenha uma vantagem competitiva. Porque a oportunidade é a descoberta do pré-sal, mas a vantagem competitiva é a adequada exploração. E há outras coisas envolvidas, que não são só ciência e tecnologia. Aspectos financeiros e investimentos e políticos, royalties...

A volta do leilão de petróleo esse ano já se reflete na pesquisa de vocês nessa área?

Ainda não.

Vocês esperam que se reflita?

Depende de quem ganhar os lotes. Porque aí tem os técnicos e científicos, e tem os aventureiros. Você sabe disso.

Que oportunidade vocês viram na área de serviços?

Na área de ciência de serviços, começou com uma estratégia pessoal para não correr riscos. Quando a gente levou para frente a ideia de ter o laboratório no Brasil, fizemos o protótipo em ciência de serviços, avaliando o próprio laboratório. Deu tão certo que a própria unidade de serviço da IBM Brasil, até hoje financia parte desse esforço.

Quanto é, da receita da IBM Brasil, a prestação de serviços, mais ou menos?

A gente também não divulga informação de caráter financeiro.

Mas dá para dizer que é a principal fonte de receita?

É. É a principal fonte de receita é serviço. A IBM Brasil é o maior exportador de serviços do país.

Exporta para quem?

Para o mundo inteiro. E o perfil varia um pouco. Leste europeu compra muito, Ásia compra muito.

E qual foi o resultado de aplicar esse método?

Por exemplo, numa operação na Bulgária, conseguimos melhorar 36% a performance em tempo, em custo e em qualidade.

Só com organização de processo?

Não, não. É preciso pôr o pesquisador lá dentro, para fazer uma avaliação. Ele começa, inclusive, avaliando o design do serviço que está sendo prestado. Isso é uma área nova: Service Sciences, Management, Engineering and Design.

E em microeletrônica?

Criamos essa área porque o governo pediu.

Por quê?

Eles pediram por uma razão mas a gente aceitou por outra. O Brasil tem esse déficit na Balança de Pagamentos por importação de componentes eletrônicos. então eles pediram que a IBM fizesse um investimento nessa área. Mas esse é um problema estrutural da economia do país, que, lá atrás, não incentivou a construção de foundries (fábricas de chips).

Teria que ter oferecido grandes incentivos. Terreno de graça, água de graça, impostos isenções fiscais. Hoje, acho que não teria sido uma boa decisão.

Seria difícil competir?

O negócio de chips adquiriu uma complexidade tal que a vantagem competitiva está na terceira casa decimal. Um chip custa US$ 1,003 e outro custa US$ 1,002. Há um outro negócio em que a gente deve entrar, que é a inteligência que vai no chip, o "chip design".

O governo nos pediu que a gente investisse e aqui e decidimos investir de uma maneira inteligente, desenhando chips que a gente patenteie e pelos quais cobra royalties. Por isso a microfluidica. Se ela vai ser fabricada na Quirguízia, ou no Uzbequistão ou em Taiwan é outra história. Mas cada chipinho daqueles que foi fabricado lá, tem um centavo de royalty aqui.

Aí você ganha na conta de serviços
.
Aí eu ganho na conta de serviços e, in the long run. Muito provavelmente depois da gestão política. Do próximo mandato.

A gente tava falando da questão educacional e normalmente se diz que a ciência do Brasil não é boa, porque o ensino de matemática é muito ruim.

Não, não é a ciência que não é boa, é a mão de obra geral. O custo operacional da formação do estudante de pós-graduação do Estados Unidos é alto porque ele trabalha com um parque instrumental altamente sofisticado. O custo de produção de um doutorando no Brasil é mais baixo porque o parque instrumental das universidades é mais humilde. Isso é importante? Sim, é importante. Mas o estudante brasileiro, como tem menos acesso a instrumento sofisticado, tem uma capacidade de abstração muito maior. Porque o cara tem que trabalhar com lápis e papel.

Eu tenho que aproveitar isso aqui do jeito que é. Tá certo? E foi por aí que a gente está encaminhando os projetos de pesquisa. Eu privilegio projetos de pesquisa que exigem capacidade de abstração. Concepção de novos algoritmos Até que eu consiga ter um parque industrial legal.

Ele vai se sentir confortável, e não vai ficar insatisfeito, querendo procurar o próximo microscópio de força atômica -- porque o próximo microscópio de força atômica está na Califórnia! Entendeu, não está aqui!

Aqui está o próximo o quê?

Aqui está o próximo grupo de pessoas que consegue fazer uma concepção estruturada e robusta, para a solução de um problema complexo. E que viabiliza, num mecanismo de e-science, a simulação dessa solução.


Endereço da página:

Links no texto: