Folha de S. Paulo


Inflação recua com consumo menor e desaceleração de alimentos

Diante da forte alta da inflação de alimentos e serviços concentrada no primeiro trimestre, o consumidor viu seu poder de compra ser corroído e colocou o pé no freio, segurando suas despesas.

Como resultado da menor demanda, os preços já começaram a ceder com mais força em maio, embora se mantenham em patamares historicamente elevados.

Nesta sexta-feira (7), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) --índice oficial e referência do sistema de metas do governo-- registrou alta de 0,37%, abaixo dos 0,55% apurados em abril.

"Foi uma desaceleração generalizada. Seis de nove grupos de produtos pesquisados registraram aumentos menores ou deflação em maio", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE.

Aliado à maior oferta de alimentos com a safra recorde e à desoneração de tributos (como o IPI de veículos prorrogado e dos impostos sobre a cesta básica), o consumo retraído determinou "uma mudança brusca" no movimento de aceleração da inflação dos primeiros meses do ano, afirma.

Editoria de Arte/Folhapress

Um sinal da freada do consumo, diz, foi o fraco desempenho do comércio nos últimos meses, especialmente com a redução das vendas dos supermercados. Ainda assim, os preços seguem salgados, sendo que, em 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,50%, os alimentos avanço de 13,53% e os serviços variação positiva de 8,51%.

"Quando os alimentos aumentam, a inflação fica mais clara e perceptível na cabeça do consumidor, pois são itens comprados no dia-a-dia. A tendência dele é reduzir a compra de outros itens, também sentindo o peso no orçamento", disse.

Além dos alimentos (cuja taxa de inflação de 0,31% em maio foi a menor desde março de 2012), essa tendência de desaceleração de maio foi notada em alguns serviços, como cabeleireiro (-0,10%), manicure (0,38%) e empregado doméstico --cuja alta passou de 1,25% em abril para 0,76% em maio. A inflação dos serviços domésticos, porém, acumula alta de 5,36% no ano, acima do IPCA (2,88%).

Segundo Nunes dos Santos, não é possível ainda perceber o reflexo no índice de inflação da nova lei que estendeu direitos dos demais trabalhadores aos domésticos, com uma eventual troca de mensalistas --categoria que passou a representar mais encargos para os empregadores-- por diaristas. Isso porque o dado apurado pelo IBGE para esse setor é de março, antes da promulgação da medida.

Também ajudaram a segurar a inflação de maio a redução dos preços dos combustíveis graças à maior mistura de álcool à gasolina --cujo preço é menor e puxa para baixo o derivado de petróleo-- e a própria redução do etanol, que se beneficiou de uma safra maior de cana e de incentivos do governo.

VEJA A INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS (em %)
PRODUTO ABRIL MAIO ANO EM 12 MESES
Tomate 7,39 -10,31 54,98 96,28
Açaí (emulsão) 3,79 -8,53 47,77 28,5
Açúcar refinado -4,5 -4,11 -12,79 -9,97
Óleo de soja -2,87 -3,56 -8,82 2,69
Frango inteiro -1,92 -3,14 1,72 18,54
Pescados 1,1 -2,81 3,06 5,36
Cebola 10,96 -2,69 67,22 69,9
Frango em pedaços -1,58 -2,33 7,16 11,2
Feijão-macassar (fradinho) -3,71 -2,06 14,56 2,86
Café moído -1,37 -1,73 -2,61 3,14
Açúcar cristal -3,41 -1,26 -8,31 -11,48
Arroz -1,87 -1,23 -5,29 22,7
Ovo de galinha 1,84 -1,05 12,99 27,98
Carnes -1,78 -0,71 -3,08 1,85
Hortaliças 3,31 -0,37 24,26 25,86
Feijão-mulatinho 7,76 16,58 38,47 32,22
Cenoura 7,82 7,33 77,4 75,09
Feijão-carioca (rajado) 9,44 7,23 44,17 19,74
Leite longa vida 2,91 3,9 9,58 15,51
Batata inglesa 16,16 3,55 66,11 130,4
Leite em pó 2,88 3,17 9,09 15,85
Feijão-preto -0,37 2,78 7,24 22,75
Iogurte e bebidas lácteas 0,62 2,45 5,75 7,27
Queijo 1,78 2,36 7,32 10,19
Macarrão 1,09 1,58 8,96 12,73
Café da manhã -0,26 1,28 5,38 12,59
Lanche 0,68 1,05 4,82 13,64
Chocolate em pó 0,46 1,03 4,79 11,29
Frutas 3,24 1,01 12,48 19,06
Refeição 0,92 0,83 4,49 9,86
Pão francês 0,8 0,71 5,44 16,18
Refrigerante e água mineral 1,46 0,7 4,17 12

CESTA BÁSICA

Para Nunes dos Santos, maio foi o primeiro mês no qual se notou um impacto mais claro da desoneração da cesta básica sobre alimentos básicos. "Houve um impacto. Só não dá para mensurar seu tamanho", disse. É que a safra recorde, diz, aumentou a oferta de produtos como soja, cana-de-açúcar, milho e arroz e reduziu o preço desses itens e de seus derivados, além das carnes que usam rações feitas a partir de grãos.

Dos itens desonerados, tiveram queda óleo de soja, açúcar e frango. Recuaram ainda os preços de café (-1,73%), arroz (-1,23%) e carnes (0,71%), também alvo da redução tributária.

ÔNIBUS: PRESSÃO À VISTA

Uma incógnita que permanece é se a tendência de menor pressão da inflação se manterá em junho por conta do reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. Trata-se de um índice de grande peso na inflação e os aumentos foram salgados, como o de 6,75% na capital paulista. Os índices só não foram maiores porque o governo federal reduziu tributos e encargos das empresas de transporte.

Os aumentos de Rio e São Paulo seriam, por contrato, em janeiro, mas o Planalto pediu seu adiamento para evitar que o IPCA daquele mês superasse a "barreira psicológica" de 1%, o que poderia fomentar uma onda de reajustes diante do aparente descontrole da inflação.

O peso dos ônibus no IPCA é de 2,65% e está entre os cinco itens de maior impacto no índice. Em São Paulo, também vão inflar a inflação de junho os reajustes de trens e metrô, que subiram 6,75%.


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