Folha de S. Paulo


Inflação desacelera em maio, mas atinge teto da meta do governo para o ano

Passada a fase mais aguda da pressão sobre os preços de alimentos, o ritmo de alta da inflação em maio declinou, mas atingiu o teto da meta estipulada pelo governo para o ano.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial e referência do sistema de metas do governo, registrou alta de 0,37%, abaixo dos 0,55% apurados em abril. O resultado do índice foi melhor que o esperado pelo mercado, de alta de cerca de 0,40%.

Inflação recua com consumo menor e desaceleração de alimentos

Com o resultado, a taxa acumulada de janeiro a maio ficou em 2,88%. Já a inflação em 12 meses somou uma variação positiva de 6,5%, valor exatamente igual ao teto da meta do governo.

Em março, o estouro do teto, com taxa de 6,59% em 12 meses, acendeu o sinal de alerta do governo e o Banco Central começou a elevar a taxa de juros. Em abril, o índice acumulado em 12 meses foi de 6,49%.

Editoria de Arte/Folhapress

GRUPO INFLAÇÃO EM ABRIL (em %) INFLAÇÃO EM MAIO (em %)
Índice Geral 0,55 0,37
Alimentação e Bebidas 0,96 0,31
Habitação 0,62 0,75
Artigos de Residência 0,63 0,46
Vestuário 0,65 0,84
Transportes -0,19 -0,25
Saúde e Cuidados Pessoais 1,28 0,94
Despesas Pessoais 0,61 0,41
Educação 0,1 0,06
Comunicação -0,32 0,08

Fonte: IBGE

A preocupação com o descontrole da inflação levou o BC a surpreender o mercado e elevar a taxa básica de juros em maio num ritmo superior ao previsto --em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano. A autoridade monetária já havia aumentado a Selic em 0,25 ponto em abril de 7,25% para 7,50% ao ano.

Segundo especialistas, o temor é que a inflação --especialmente de alimentos, que compromete mais o poder de compra das classes de menor renda-- afete a avaliação do governo Dilma neste ano pré-eleitoral. Pesquisas internas encomendadas pelo Planalto, segundo reportagem da Folha, já indicaram uma piora.

FREIO

Em maio, as alimentos cederam para uma alta de 0,31% --abaixo do avanço de 0,96% registrado em abril. As quedas nos preços do tomate (-10,31%), açúcar refinado (-4,11%), óleo de soja (-3,56%) e frango (-3,14%) ajudaram a conter a taxa desse grupo em maio.

"O que vimos de abril para maio foi uma razoável desaceleração e a principal causa do recuo do índice ficou com o desaceleração dos alimentos, que até então era a maior fonte de pressão", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE.

Apesar da freada dos alimentos em maio, o grupo acumula variação positiva de 5,98%, quase o dobro do IPCA. Em 12 meses, a alimentação soma aumento de 13,53%, mais do que o dobro da inflação média.

Segundo Nunes dos Santos, a pressão dos alimentos ficou mais concentrada no primeiro trimestre. Em abril, as taxas do grupo alimentação foram menores do que as do mesmo mês de 2012. O mesmo se repetiu em maio.

"Não é que os alimentos ficaram mais baratos. Ainda acumulam fortes reajustes nos últimos meses. Mas eles têm subido menos em abril e maio graças à entrada da safra recorde e a maior oferta de produtos."

VEJA A INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS (em %)
PRODUTO ABRIL MAIO ANO EM 12 MESES
Tomate 7,39 -10,31 54,98 96,28
Açaí (emulsão) 3,79 -8,53 47,77 28,5
Açúcar refinado -4,5 -4,11 -12,79 -9,97
Óleo de soja -2,87 -3,56 -8,82 2,69
Frango inteiro -1,92 -3,14 1,72 18,54
Pescados 1,1 -2,81 3,06 5,36
Cebola 10,96 -2,69 67,22 69,9
Frango em pedaços -1,58 -2,33 7,16 11,2
Feijão-macassar (fradinho) -3,71 -2,06 14,56 2,86
Café moído -1,37 -1,73 -2,61 3,14
Açúcar cristal -3,41 -1,26 -8,31 -11,48
Arroz -1,87 -1,23 -5,29 22,7
Ovo de galinha 1,84 -1,05 12,99 27,98
Carnes -1,78 -0,71 -3,08 1,85
Hortaliças 3,31 -0,37 24,26 25,86
Feijão-mulatinho 7,76 16,58 38,47 32,22
Cenoura 7,82 7,33 77,4 75,09
Feijão-carioca (rajado) 9,44 7,23 44,17 19,74
Leite longa vida 2,91 3,9 9,58 15,51
Batata inglesa 16,16 3,55 66,11 130,4
Leite em pó 2,88 3,17 9,09 15,85
Feijão-preto -0,37 2,78 7,24 22,75
Iogurte e bebidas lácteas 0,62 2,45 5,75 7,27
Queijo 1,78 2,36 7,32 10,19
Macarrão 1,09 1,58 8,96 12,73
Café da manhã -0,26 1,28 5,38 12,59
Lanche 0,68 1,05 4,82 13,64
Chocolate em pó 0,46 1,03 4,79 11,29
Frutas 3,24 1,01 12,48 19,06
Refeição 0,92 0,83 4,49 9,86
Pão francês 0,8 0,71 5,44 16,18
Refrigerante e água mineral 1,46 0,7 4,17 12

Fonte: IBGE

OUTROS GRUPOS

Também contribuiu para a freada da inflação o grupo de transporte, que registrou uma deflação de 0,25% contra uma taxa também negativa de 0,19% em abril. A deflação de maio é resultado da queda dos preços da gasolina (0,52%), etanol (-1,97%) e passagens aéreas (-3,43%).

O aumento das tarifas de meios de transporte urbano em algumas cidades em junho, porém, deve impactar o grupo no resultado do IPCA deste mês.

A desaceleração da inflação do grupo saúde e cuidados pessoais também contribuiu para a freada do IPCA. A alta de maio foi de 0,94%, inferior à de 1,28% de abril graças à menor pressão do aumento dos remédios (1,61%).

Autorizado no fim de março, o reajuste, segundo o IBGE, já foi totalmente absorvido. Ainda assim, os medicamentos foram os itens de maior peso individual no IPCA de maio --0,06 ponto percentual, com alta de 1,61%.

O IPCA é pesquisado mensalmente em nove regiões metropolitanas e duas capitais do país (Brasília e Goiânia) para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos.

INFLAÇÃO DA MAIS BAIXA RENDA

Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação das famílias de rendimento menor (até cinco salários mínimos), teve alta de 0,35% em maio. A variação é inferior à de 0,59% em abril.

Por causa da alta dos alimentos, que pesam mais na cesta de consumo das famílias de menor renda, o índice acumula alta de 3,02% no ano e de 6,95% em 12 meses. Essas taxas são superiores aos índices registrados pelo IPCA.


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