Folha de S. Paulo


Análise: Resultado da indústria dá sinais de recuperação mais firme do investimento

A economia brasileira vive um momento de transição no modelo de crescimento, em que se busca ampliar o papel do investimento como propulsor da atividade econômica, sem comprometer o projeto de crescimento com distribuição de renda.

Esta mudança tem envolvido uma importante alteração de preços macroeconômicos, bem como a adoção de uma agenda pró-competitividade. A lenta recuperação do crescimento econômico encontra-se largamente relacionada a esta transição.

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No que tange aos preços macroeconômicos, verificou-se uma mudança importante no patamar da taxa de câmbio e da taxa básica de juros.

Como parâmetros fundamentais nos cálculos empresariais e nas decisões de alocação de riqueza, não é de se esperar que os efeitos de tais mudanças sejam sentidos de forma imediata. No que se refere à agenda pró-competitividade, as principais mudanças passam pelas desonerações fiscais do setor industrial e pela política de concessões de infraestrutura logística --portos, aeroportos, estradas e ferrovias.

Notadamente no caso da infraestrutura, há um grande potencial de crescimento ainda pouco explorado, capaz de espraiar seus efeitos dinâmicos pelos diversos setores da economia brasileira.

Mesmo sendo positivas para as perspectivas de crescimento de longo prazo da economia brasileira, essas alterações, somadas às incertezas do setor externo e aos deslizes de comunicação do governo, engendraram um ambiente marcado pela cautela do setor empresarial na tomada de decisões de investimento. Diante disso, a recuperação se mostrou mais lenta do que o esperado.

Dissipados os ruídos, o investimento dá agora os primeiros sinais de uma recuperação mais consistente. Os dados do PIB trimestral, divulgados na semana passada, apontaram 4,6% de crescimento na formação bruta de capital fixo (na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior). A recuperação na produção industrial de bens de capital, que é de 13,4% no acumulado no ano, dá também indícios de que o investimento pode estar finalmente reagindo.

Ítalo Martins é pesquisador do Centro de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp; Bruno De Conti é professor do Instituto de Economia da Unicamp; Pedro Rossi é professor do Instituto de Economia da Unicamp


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