Folha de S. Paulo


Análise: Melhora na balança comercial só ocorrerá com exportação de bens tecnológicos

Após os fracos resultados da balança comercial nos cinco primeiros meses, não se pode duvidar de que os US$ 3,9 bilhões esperados para o superavit neste ano sejam difíceis de alcançar.

Para que isso aconteça, o superavit médio terá de ficar em torno de US$ 1,3 bilhão mensal. Em que pese a safra agrícola ainda para entrar, não parece suficiente para mudar muito essa trajetória.

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Os planos de concessão do governo podem ser uma ajuda para os exportadores. Mas não devemos esquecer que, da mesma forma que a melhora de portos e estradas ajuda a exportação, também colabora para a importação. Vai ficar mais barato exportar, mas também ficará mais barato para importar.

A tendência, com isso, é ampliar o deficit na balança comercial de manufaturados e elevar o superavit dos produtos agrícolas.

O que precisaria haver é aumento de valor da pauta exportada, o que só vai acontecer quando conseguirmos aumentar o conteúdo tecnológico do que exportamos.

Isso não vem simplesmente com a melhora dos portos e das estradas, que é positiva, mas não é a solução para todos os problemas.

Aumentar a balança comercial a partir de agora vai depender de um esforço doméstico que não parece estar sendo feito, por problemas que precisam ser atacados pelo governo.

Apenas como exemplo, desde 2005 o custo unitário do trabalho no Brasil, em euros, cresceu 117% acima do mesmo indicador na Europa.

Enquanto isso, a infraestrutura continuará sendo vendida como salvação da lavoura, literalmente.

SERGIO VALE é economista-chefe da MB Associados.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

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