Folha de S. Paulo


Analistas se dividem sobre efeito de juros no emprego

O mercado de trabalho já pode começar a sentir nos próximos meses os efeitos da alta de juro, medida usada pelo Banco Central para conter a inflação.

O impacto na taxa de desemprego pode chegar até a 1 ponto percentual a mais em 2013 na comparação com o ano anterior, segundo estimam os mais pessimistas.

Queda em popularidade por causa de inflação fez Dilma apoiar o BC
Desemprego baixo é aposta do governo

Mais cautelosos, outros economistas acreditam que é necessário um ciclo mais longo de aperto monetário (a alta de juros) para que haja um esfriamento mais intenso da economia que atinja com mais força emprego e renda.

Mas economistas e especialistas em trabalho são unânimes em dizer que, com isso, fica também mais distante a meta de gerar 1,5 milhão de empregos neste ano, como chegou a prever o governo há duas semanas.

A criação de vagas, a taxa de desemprego e a renda já estavam em um movimento de desaceleração que tende a se acentuar agora.

Após chegar ao menor patamar em dezembro do ano passado (4,6%, segundo o IBGE), o desemprego subiu pela quarta vez consecutiva e atingiu 5,8% em abril.

GELO NA ÁGUA FRIA

"A dose do aumento de juros foi elevada e veio na hora errada. É como jogar gelo no que já estava esfriando", diz o economista Fabio Silveira, sócio da GO Associados. "O pior: contamina as expectativas para 2014."

Com o aumento de meio ponto percentual no juro, o nível de atividade da economia -principalmente da indústria- desacelera ainda mais e em ritmo mais intenso: os empresários seguram os investimentos, o que tem efeito direto nas contratações. O consumidor, por sua vez, fica mais cauteloso, e o varejo também é afetado.

"É provável que o ambiente de crescimento mais modesto force um movimento de acomodação do mercado de trabalho, que já estava sendo visto", afirma André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.

Editoria de Arte/Folhapress

Diante da desvalorização do real, a inflação seguirá sob pressão em 2013, o que deve impedir a melhoria da atividade econômica.

O economista estima crescimento de 2,1% do PIB para este ano, com desemprego de 6% (ante 5,6% em 2012).

"Ainda assim, vale lembrar que 6% é um patamar baixo, metade do verificado há dez anos", diz Perfeito.

Embora o impacto da elevação de juros deva levar de seis a nove meses para ser "absorvido", o ânimo do empresariado já está afetado, ressalta.

INDÚSTRIA EM CRISE

Para o Dieese, a piora do emprego na indústria é um dos fatores de maior preocupação. "Em um momento em que era necessária uma política para incentivar investimentos no setor, vem uma pisada no freio", diz Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Dieese.

O resultado é que isso deve dificultar as negociações salariais no segundo semestre, quando tradicionalmente a economia deveria estar mais aquecida, diz.

CAUTELA

Uma parte dos analistas, no entanto, é menos pessimista em relação ao efeito dos juros. "Só um ciclo mais longo (de ajustes da Selic) poderia afetar a demanda e bater no mercado de trabalho", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

A visão é compartilhada por Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. Em 2014, a consultoria aposta em uma taxa de desemprego de 5,1%, menor que a projetada para este ano (5,3%).

"Isso porque acreditamos que o ciclo de ajuste (da taxa de juros pelo Banco Central) será curto e que a política expansionista (de gastos) do governo continuará forte", afirma Alessandra.


Endereço da página:

Links no texto: