Folha de S. Paulo


Juro maior eleva risco de fundos de previdência privada

O aumento inesperado dos juros Selic, taxa básica da economia brasileira, para 8% ao ano colocaram mais pressão nos fundos de previdência privada de perfil mais conservadores, que terão de assumir riscos maiores investindo em papéis privados ou em títulos de prazos maiores.

A maior parte dos investimentos desses fundos são em títulos da dívida pública pós-fixada, conhecidos como LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que seguem a taxa Selic.

A partir de hoje, esses fundos de previdência não poderão mais mais comprar títulos públicos ou de empresas com prazo mais curto do que a média de sua carteira. Esse é o primeiro passo no compromisso fechado com o governo de alongar o prazo dos investimentos em troca de uma rentabilidade maior, gradualmente, até 2016.

Quando o compromisso foi fechado os juros estavam baixos e essa exigência ajudava a elevar a rentabilidade dos fundos. Quanto maior o prazo de um título de renda fixa, porém, maior é o risco de variação das taxas, o que pode trazer perdas ao investidor.

Isso é particularmente sensível em momentos de aumento dos juros, como a atual. Nessas épocas, alguns títulos chegam a ter rendimento negativo.

Foi o que aconteceu com os fundos de renda fixa, que investem em títulos da dívida prefixada. No mês passado (até o dia 27), o rendimento médio deles era de 0,36% bruto. Descontando o imposto de renda, a taxa cai para o intervalo entre 0,28% e 0,31% (dependendo da alíquota), bastante abaixo do 0,43% pago pela poupança.

"Nesse cenário, é importante não se prender à variação diária do montante", afirma Osvaldo Nascimento, presidente da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

Em outras palavras, o mais indicado agora é ter paciência. Assim como investimentos em ações, aplicações de maior risco não devem ser analisadas com uma fotografia do instante.

"O investidor pode ficar tranquilo com a medida se o objetivo for ter resultados no longo prazo", diz Ricardo Rochman, professor da escola de economia da FGV-SP.

"O consumidor deve ficar atento à performance do seu produto e fazer comparações. O cenário será mais concorrido e as seguradoras vão se diferenciar em rentabilidade", disse Cláudio Pires, superintendente financeiro da Mongeral Aegon.

A medida atinge os planos PGBL e VGBL, que reúnem cerca de R$ 300 milhões, e é uma maneira de o governo federal prolongar o prazo da sua dívida.

Os fundos têm cerca de 60% do patrimônio aplicados em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), papéis com juros pós-fixados, de curtíssimo prazo, que serão substituídos aos poucos por NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional série B), corrigidas pela inflação do IPCA e têm prazos que vão até 2050.


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