Folha de S. Paulo


Dólar sobe 1% após Mantega reafirmar que câmbio não será arma contra inflação

O dólar à vista, referência para as negociações no mercado financeiro, registra forte alta em relação ao real nesta quarta-feira (29) depois que o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que a valorização da moeda americana não é uma preocupação para o governo e que o câmbio não será usado como ferramenta para combater a inflação.

Às 12h50 (horário de Brasília), o dólar à vista subia 1,01% em relação ao real, cotado em R$ 2,095 na venda. No mesmo horário, o dólar comercial --utilizado no comércio exterior-- tinha valorização de 1,06%, para R$ 2,096.

O ministro da Fazenda disse que a valorização do dólar é um movimento internacional em resposta às especulações de que o Federal Reserve, banco central americano, irá reduzir seu programa de estímulo monetário.

Mantega destacou que a flutuação do dólar, "com a menor intervenção possível" por parte do governo, resultará em um equilíbrio de mercado que é favorável ao balanço de pagamentos do Brasil.

O avanço do dólar é um fato que será considerado pela autoridade para definir o destino da taxa básica de juros brasileira --a Selic-- na noite de hoje.

A definição do novo patamar da Selic ganhou ainda mais atenção hoje depois que o IBGE divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 0,6% no primeiro trimestre do ano na comparação livre de influências sazonais com os últimos três meses de 2012 --o mercado previa avanço de 0,9%.

Com o fraco resultado, a curva de juros futuros passou a considerar uma alta mais branda na Selic esta noite, de apenas 0,25 ponto percentual --o que levaria a taxa básica de juros para 7,75% ao ano.

Segundo operadores consultados pela Folha, a mudança nas apostas para a Selic contribui para a alta do dólar hoje. O mercado segue atento porque, apesar das declarações de Mantega, ainda há perspectiva de que o BC possa intervir no câmbio.

Isso porque a apreciação da moeda americana nos últimos dias fez com que a cotação rompesse os níveis de R$ 2,03, R$ 2,05 e R$ 2,07, considerados tetos de uma banda informal considerada adequada pelo governo tanto para a inflação quanto para as empresas.

Agora operadores aguardam a reação do BC quando o dólar se aproximar de R$ 2,10 --nível que foi fortemente defendido pela autoridade monetária no ano passado.

Para Waldir Kiel, da H. Commcor, o BC não interferiu no câmbio nos últimos dias porque vê uma entrada "mais pesada" de dólares no país em breve.

A Cetip divulgou semana passada um edital convocando leilão de venda de Notas do Tesouro Nacional em poder do Banco Econômico, que está em liquidação. Os 3,593 milhões de títulos, que são cambiais, serão vendidos em leilão no dia 4 de junho.

"No total, a operação equivale à injeção de cerca de US$ 4 bilhões no sistema e tem efeito semelhante a um leilão de swap cambial tradicional --equivalente a venda de dólares no mercado futuro [o que pressionaria a cotação do dólar para baixo]", disse Kiel.

Com Reuters


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