Índios da etnia Munduruku invadiram nesta madrugada (27), pela segunda vez em menos de um mês, o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA).
Segundo a Norte Energia, empresa responsável pela usina, 140 indígenas ocuparam o canteiro onde está sendo construída a barragem principal. Este é o 91º dia, em dois anos de obras, em que ocorre alguma paralisação no canteiro.
Sucessivas ocupações têm comprometido o cronograma de obras da usina, que está atrasada segundo relatório da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A primeira turbina deverá começar a gerar energia em fevereiro de 2015.
Os Munduruku não são indígenas originários da área da obra, mas da região do Tapajós --a cerca de 800 quilômetros do canteiro--, onde o governo federal pretende construir um outro complexo de geração de energia hidrelétrica. A etnia pede a paralisação do projeto de Belo Monte e a suspensão dos estudos de aproveitamento hidrelétrico do complexo do Tapajós.
No início deste mês, a Norte Energia obteve liminar de reintegração de posse no Tribunal Regional Federal e os indígenas deixaram o canteiro. Quatro ônibus foram disponibilizados para o transporte dos membros dessa etnia até a região de origem, mas apenas crianças e mulheres retornaram para a aldeia.
Um grupo dos Munduruku decidiram ficar em Altamira. Membros da etnia que participaram da primeira invasão integram o grupo que invadiu o canteiro hoje. A Norte Energia informa que voltará a "utilizar os recursos legais" para retomar a área ocupada.
Com a paralisação do canteiro de Belo Monte, 3.500 trabalhadores estão parados. As obras não foram interrompidas nos outros três canteiros: Pimental, Diques e Canais. Hoje, mais de 23 mil trabalhadores trabalham nas obras na região. Até o fim do ano, serão 28 mil.
RISCO
A tensão entre trabalhadores e indígenas na região da obra de Belo Monte tem crescido. O Consórcio Construtor de Belo Monte encaminhou, há duas semanas, carta a quatro ministérios do governo Dilma alertando para a necessidade de medidas urgentes a fim de ampliar a segurança na obra. A Folha apurou que os pedidos ainda não foram respondidos.
A principal preocupação é que a sequência de ocupações gere conflitos entre os trabalhadores alojados e os índios invasores. Uma fonte ouvida pela Folha afirma que a situação é "extremamente tensa" e que o conflito pode ocorrer a qualquer momento.
O MME (Ministério de Minas e Energia) confirmou que recebeu o alerta do Consórcio Construtor e que o encaminhou ao Ministério da Justiça. Os ministérios da Casa Civil e Secretaria Geral da Presidência também foram informados dos riscos.
Um contingente da Força Nacional de Segurança está na região no momento. Na invasão de hoje, não houve conflito.