Folha de S. Paulo


British Gas aposta no pré-sal para virar a segunda maior do Brasil

Principal sócia da Petrobras no pré-sal, a BG quer assumir o papel de protagonista na exploração de óleo no país, no qual produzirá, no "pico", 600 mil barris/dia no país em 2020.

Para tal, a empresa britânica arrematou dez blocos como operadora, status que lhe confere a responsabilidade sobre o planejamento e as contratações de bens, serviços e pessoal durante a prospecção e desenvolvimento dos campos.

Antes mesmo de saber se essa aposta terá êxito, o presidente da BG Brasil, Nelson Silva, disse à Folha que a companhia será, a partir do segundo semestre, a segunda maior produtora de óleo do país, atrás apenas da Petrobras.

Tal posição, diz, será mantida, ao menos, até 2020, mesmo sem a possível produção dos blocos adquiridos na 11ª rodada da ANP.

A BG é hoje a terceira maior produtora do país graças à parceria com a Petrobras no campo de Lula (pré-sal da bacia de Santos).

Sua fatia (25%) no campo corresponde a uma extração de cerca de 30 mil barris/dia, ainda abaixo dos 45 mil da norueguesa Statoil.

Com a previsão de novos poços em Lula, a perspectiva é que a produção da BG cresça mais rapidamente do que a da Statoil. Já a Petrobras lidera com folga --1,8 milhão de barris/dia.

Essas áreas demandarão investimentos de, no mínimo, US$ 700 milhões no programa de perfuração de poços acertado com a ANP e no valor pago pelas concessões.
"Seremos o maior investidor privado do país [entre todas as empresas]", disse.

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Folha - O que significa a volta da BG como operadora no Brasil?

Nelson Silva - Ficou claro [com o resultado do leilão] que a gente quer ser operador. Dependemos do sucesso nesses 10 blocos que adquirimos, mas nosso apetite e nossa intenção ficaram claros.

Porque não ser operador antes?

Simplesmente porque tivemos de esperar cinco anos e meio pela volta das rodadas [de licitação, praticamente paralisadas desde a descoberta do pré-sal]. Queríamos participar de uma rodada. Tivemos um índice de sucesso superior a 80%. Fizemos proposta para 12 blocos e levamos dez. Foi o índice mais alto entre todas as empresas.

O que fez vocês focarem na bacia de Barreirinhas?

A expectativa é que haja em Barreirinhas reservas parecidas [de qualidade e grande volume] com as encontradas na costa oeste da África, em países como o Gana, por exemplo.

Qual será o cronograma de desenvolvimento dos 10 poços adquiridos na 11ª rodada?

Estamos em uma fase de [análise] sísmica ["mapas" da geologia local] que deve levar em torno de dois anos. Depois, vem o plano de desenvolvimento [da produção]. Nosso compromisso de investimento nessa rodada foi em torno de US$ 700 milhões, entre US$ 200 milhões de bônus de assinatura e US$ 500 milhões do programa exploratório mínimo [perfuração de poços].

Diante do resultado do leilão, que proporção o Brasil adquire na BG?

Atualmente, a BG opera em pouco mais de 20 países. O Brasil vai ser, sem dúvida alguma, o mais importante em termos de produção muito em breve, antes de atingirmos o pico de produção de 600 mil barris por dia em 2020. Temos hoje dois grandes projetos, Brasil e Austrália [foco em gás], mas o Brasil é superior.

Quanto a empresa planeja investir no Brasil?

A BG está em um ritmo de investimento de US$ 3 bilhões por ano até 2018. Então é um plano multibilionário, que soma US$ 15 bilhões. Daí que a gente pode dizer com muita tranquilidade que a BG vai ser a maior empresa internacional investindo no Brasil. Não há outro país com esse volume de investimento por parte da BG.

Quais os planos da empresa no curto prazo?

No segundo semestre, vamos nos tornar a maior empresa privada em volume de produção de petróleo no país. Em 2020, a Petrobras produzirá na casa dos milhões [cerca de 4 milhões de barris/dia]. Nós, na casa dos 600 mil. Não vi nenhum operador brasileiro com planos de negócios que ultrapassem 100, 150 mil barris por dia em 2020. Quando assumirmos a segunda colocação no ranking das maiores produtoras, não vai ter para mais ninguém, salvo possíveis aquisições por outras companhias.

O investimento da BG no Brasil demandará financiamento, virá da matriz em Londres ou será do caixa próprio da companhia?

O investimento em perfuração vai ocorrer daqui a 3 anos e meio. Até lá, equacionar esses valores vai ficar mais fácil. Vamos ter geração de caixa do Brasil [com o aumento da produção do pré-sal]. O investimento virá da geração de caixa próprio da BG [aqui e no exterior].

O que o senhor acha da obrigatoriedade de a Petrobras ser operadora única nos futuros leilões do pré-sal?

O regime de partilha [exclusivo do pré-sal, pelo qual empresas "pagam" em óleo ao governo pelo direito de exploração], em si, não representa um obstáculo para a BG, até porque nós operamos em países que usam esse regime, como o Egito. Dependemos das condições econômicas para dizermos se temos interesse nas novas áreas [que vão a leilão, no caso, o campo de Libra, do pré-sal].

Mas e o fato de não poder operar campos no pré-sal?

Nós já não operamos hoje [nas parcerias com a Petrobras e Galp] e estamos muito satisfeitos.

Mas a obrigação da Petrobras como operadora exclusiva foi muito criticada pelo IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo).

Aí é uma questão mais filosófica, de que mais players [competidores] permitem maior competitividade ao setor. A concorrência leva a uma maior eficiência e a custos mais baixos. Basta ver o que aconteceu ao Brasil de 1997 para cá, após a abertura de mercado e o fim do monopólio [da Petrobras].


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