Folha de S. Paulo


Contas externas têm deficit de US$ 8,3 bilhões em abril, pior resultado histórico

O deficit em transações correntes do país alcançou US$ 8,3 bilhões em abril, um recorde histórico, considerando a série iniciada em 1947.

O resultado é 55% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado, quando atingiu US$ 5,4 bilhões, informou o Banco Central nesta quarta-feira (22).

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O montante é bem superior ao esperado pela autoridade monetária, que havia previsto deficit de US$ 6,4 bilhões para abril.

No acumulado do ano, o saldo já chega a US$ 33,2 bilhões, quase o dobro do valor verificado no primeiro quadrimestre de 2012. Trata-se de outro recorde na comparação histórica.

Nos últimos 12 meses, o rombo é de US$ 70 bilhões, o equivalente a 3,04% do PIB (Produto Interno Bruto). É o maior nível desde julho de 2002, quando o deficit em transações correntes representou 3,2% do PIB.

A previsão do BC para o ano é que o deficit fique em US$ 67 bilhões, um salto de 23% frente ao registrado em 2012.

O saldo de transações correntes mostra as trocas externas do país. No cálculo, o BC considera dados da balança comercial, remessas de dividendos de empresas ao exterior, investimentos estrangeiros no país, aportes brasileiros em outros países e transferências unilaterais.

BALANÇA COMERCIAL

Segundo Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, a principal razão para o deficit recorde das contas externas do país no ano está no fraco desempenho da balança comercial --que mede a diferença entre as importações e exportações do país.

Entre janeiro e abril deste ano, a balança apresentou deficit de US$ 6,2 bilhões contra superávit de 3,3 bilhões registrado no mesmo período de 2012.

A diferença de US$ 9,5 bilhões da conta comercial corresponde a 60% da discrepância entre o deficit de transações correntes do ano passado e o de 2013.

"Temos importações com crescimento de 8,8% no ano. Há o impacto da mudança do tempo de registro de importações de combustíveis, mas isso não é por si só a justificativa. A verdade é que estamos com mais importações em diversos segmentos. Ao mesmo tempo, as exportações mostram ainda uma retração de 4,3%", disse.

Segundo Maciel, o arrefecimento do ritmo da economia global atinge as vendas externas do país. Já o crescimento da atividade econômica interna pressiona a demanda por importações.

O restante do resultado negativo visto nas contas externas deve-se ao crescimento do volume de remessas de lucros e dividendos, que este ano aumentaram em US$ 3,6 bilhões frente ao mesmo período do ano passado, e à alta no deficit da conta de serviços, com incremento de US$ 2 bilhões no quadrimestre.

Juntos, os três fatores equivalem a 95% da diferença entre o deficit registrado entre janeiro e abril deste ano e de 2012.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

TURISMO

A balança de serviços ficou negativa em US$ 4 bilhões em abril, 25% acima do verificado no mesmo mês de 2012.

Os gastos brasileiros no exterior foram destaque mais uma vez: somaram US$ 2,2 bilhões em abril, expansão de 22% frente o mesmo período de 2012 e um recorde histórico.

Diante do resultado, a conta de viagens internacionais ficou negativa em US$ 1,5 bilhões no mês, após o desconto do ganho de US$ 580 milhões com gastos de estrangeiros no país.

No quadrimestre, o deficit chegou a US$ 5,2 bilhões, o saldo negativo mais expressivo já verificado na série histórica.

Segundo Maciel, em maio os gastos brasileiros no exterior seguirão em expansão.

"Há o crescimento da massa salarial, da renda do brasileiro. O câmbio não ajuda a explicar, pois está mais alto no período", afirmou.

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

O investimento direto estrangeiro no país (IED) em abril foi de US$ 5,7 bilhões, sendo US$ 4,3 bilhões referentes a ingressos para participação acionária em empresas brasileiras e US$ 1,4 bilhão em empréstimos.

O desempenho de abril foi o melhor da série histórica e acima do previsto pelo BC, que estimava o ingresso de US$ 4,2 bilhões em IED no mês.

No quadrimestre, o nível de investimentos estrangeiros ficou em US$ 19 bilhões, ainda abaixo do registrado em 2012, quando chegou a US$ 20,3 bilhões.

Nos últimos 12 meses, os ingressos líquidos de investimentos estrangeiros somaram US$ 64,1 bilhões, o equivalente a 2,79% do PIB. Já os investimentos brasileiros no exterior foram de US$ 400 milhões em abril.

Para maio, a previsão do BC é que o país recebe US$ 2,8 bilhões em IED.

DÍVIDA EXTERNA

No mês passado, a dívida externa brasileira chegou a US$ 322,2 bilhões, um aumento de US$ 711 milhões frente a março deste ano.

Já o estoque líquido de reservas internacionais do país teve acréscimo de US$ 1,7 bilhão em abril em relação ao mês anterior, chegando a US$ 378,7 bilhões.

PROJEÇÕES

O Banco Central manteve a projeção feita em março de deficit de US$ 67 bilhões em 2013. Nas contas da autoridade monetária, o país registrará superavit comercial de US$ 15 bilhões, saldo negativo de US$ 249 bilhões na conta de serviços e deficit de US4 41 bilhões na rubrica de rendas.

Em 2012, o deficit de transações correntes ficou em US$ 54,2 bilhões.

Para maio, a previsão é de deficit de US$ 5,2 bilhões.


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