Folha de S. Paulo


Pouco brasileira, indústria acumula entraves

As razões que explicam por que a crise da indústria é mais severa no Brasil têm tons conjunturais e outros mais antigos, que foram expostos pela maior concorrência à qual o setor foi exposto após a crise de 2008/2009.

Pouco inovadora e alheia às cadeias globais de produção, a indústria brasileira se tornou menos capaz de competir, tanto no mercado doméstico quanto no externo.

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O economista Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, afirma que a disputa por mercados aumentou com a crise global e "desnudou" as travas locais.

"Os problemas não apareceram ontem", diz ele. "A indústria brasileira é pouco internacionalizada, exporta pouco e não tem incentivos para inovar. Com isso, não estão aqui os segmentos mais modernos que cresceram nos últimos anos", afirma Almeida, referindo-se a setores de ponta da eletrônica, tecnologia da informação e químico.

Michelle Müller -13.jul.12/Folhapress
Linha de montagem de veículos no Brasil; para economista, indústria do país ficou fora das cadeias globais de produção
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CÂMBIO E CUSTOS

Outro fator são as pressões de custos acumuladas ao longo dos últimos anos. O câmbio apreciado reduziu a margem de lucro do setor, o que se somou à alta das despesas com mão de obra.

Em meio à competição, a indústria não tem espaço para elevar preços. Ao mesmo tempo, a produtividade (medida de eficiência) recuou. "O custo logístico é um tema batido, mas é real. Isso também retira competitividade", afirma Almeida.

Esses fatores, além da piora da crise na Argentina (importante consumidor de produtos industriais do Brasil), resultaram em um deficit comercial da indústria, de US$ 95 bilhões em 2012.

No primeiro trimestre deste ano, apesar das desonerações de impostos, da redução do preço da energia e de um câmbio mais desvalorizado, o deficit é de US$ 46 bilhões.

"A resposta ainda é tímida perto dos nossos problemas", afirma Flávio Castelo Branco, da CNI.


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