Folha de S. Paulo


Autônomos que trabalham a distância nos EUA se juntam em espaços comuns

A empresária Whitney Tingle, de Nova York, já teve a comum fantasia de largar o emprego, criar seu próprio negócio e trabalhar em casa. Não funcionou como ela planejava.

Um ano depois de criar a Sakara Life, empresa que entrega refeições orgânicas, Tingle, 27, descobriu que "o trabalho não tinha começo nem fim". "Eu me distraía olhando os tufos de poeira sob a mesa e passava aspirador no meio do dia, ou me olhava no espelho às 7 da noite e percebia que ainda estava de pijama."

Ela e sua sócia, Danielle DuBoise, se inscreveram então na NeueHouse, um espaço de "co-working" (trabalho compartilhado).

Destinado a profissionais criativos sem paradeiro fixo, a NeueHouse planeja ter postos avançados em lugares distantes, começando por Los Angeles, Londres e Xangai. O espaço inclui uma sala de exibição, um estúdio de transmissão e um estúdio de gravação.

Em poucos meses, disse Tingle, seu humor melhorou, e sua empresa dobrou o faturamento, graças aos contatos que ela fez lá.

Esta deveria ser a era do escritório móvel, em que empreendedores solo trabalhariam de casa ou da praia. Mas muitos autônomos estão descobrindo a alienação que se esconde por trás da fantasia do "home-office", e um crescente número deles está aderindo a uma nova geração do "co-working", que inclui lugares como Grind, Fueled Collective e NeueHouse.

Rebekah Epstein dirigia uma agência de relações públicas na sua casa, em Austin (Texas), na companhia apenas do seu dachshund Dixie, cujos latidos certa vez a obrigaram a se refugiar num armário escuro no meio de uma negociação por telefone.

Irritada, ela aderiu a um espaço local chamado Link Coworking, que oferece drinques de aniversário e outras confraternizações, e também colegas para os quais ficar apresentável. "Parece uma coisa pequena", diz Epstein. "Mas se vestir para trabalhar faz uma enorme diferença."

Ivory Chafin-Blanchard, 32, produtora de web no Brooklyn (Nova York), tinha outra queixa sobre trabalhar em casa. "Quando você não precisa sair, e você tem uma carga de trabalho exigente, é muito difícil desligar", disse ela. Em casa, acrescentou, "se eu não estivesse trabalhando, me sentia culpada".

Em setembro, ela entrou para o Grind, inaugurado em 2011 em Manhattan com um interior minimalista e a promessa de estimular talentos a colaborarem "fora do sistema".

O percentual de trabalhadores americanos que trabalha exclusivamente em casa, embora ainda pequeno, cresceu 37% de 1997 a 2010, chegando a 6,6%, segundo pesquisa do Departamento do Censo.

Mas parece que o sonho de trabalhar em casa não era tudo isso. Há atualmente cerca de 800 instalações comerciais de "co-working" nos EUA. Uma tendência semelhante ocorre na Inglaterra, onde o Club Workspace, por exemplo, mantém locais em vários pontos de Londres.

Tierney O'Dea Booker, 37, que entrou para o Link depois de tentar gerir de casa sua consultoria de mídia em Austin, disse que pode haver um efeito colateral positivo até para a política do escritório. "O local de trabalho é essencialmente transformado em um jogo, com pontos e obstáculos, recompensas, armadilhas e aliados."

"Quando você está sozinha, precisa criar seu próprio sistema para se impulsionar. É fácil estabelecer o nível errado para si cotidianamente, seja não exigindo o suficiente de si, ou exigindo demais, buscando um objetivo não realista e se sentindo inadequada por causa disso", diz Booker.

Quem trabalha em casa mais de três dias por semana ou "free-lancers" em tempo integral correm o risco de se sentir alienados, disse Ravi Gajendran, autor de uma meta-análise da Universidade Estadual da Pensilvânia, em 2007, com 46 estudos sobre o teletrabalho.

"As pessoas não estão voltando ao escritório pelo escritório", disse Alex Hillman, dono do Indy Hall, em Filadélfia, que abriu há seis anos. "Elas estão voltando ao escritório para terem companhia outra vez."

A própria disposição física da NeueHouse já sugere que o trabalho hoje em dia é uma versão glorificada do ficar com amigos. A galeria principal é uma coleção de espaços para reunir as pessoas: mesas de biblioteca em estilo retrô, almofadas sobre uma escadaria confortável, e cantinhos para conversas, com mesinhas e sofás de couro.

Mas o que realmente diferencia esses espaços de escritórios comuns? Você está lá por escolha. "Se alguém estiver incomodando você", diz Booker, "você simplesmente sai".


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