Folha de S. Paulo


Com bate-boca e troca de acusações, Câmara adia votação da MP dos Portos

Em uma sessão com bate-boca e troca de acusações entre líderes partidários, a Câmara dos Deputados encerrou os trabalhos do plenário desta quarta-feira (8) sem concluir a análise da medida provisória que regula o setor de portos.

Com isso, a matéria deve perder a validade porque dificilmente será aprovada na Câmara e no Senado antes de perder validade --o que ocorrerá no dia 16.

O encerramento da sessão ocorreu após um discurso do líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), em que o parlamentar afirmou que a medida provisória estava sob suspeição. A fala provocou embate com o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e revoltou deputados.

Na tribuna da Casa, Garotinho disse que o texto virou a "MP dos Porcos". Adversário político do peemedebista, o líder do PR afirmou que uma sugestão de mudança no texto da MP apresentada por Cunha era a "emenda tio patinhas". "Isso não pode ser transformado em show do milhão, para tudo na vida tem limites", disse Garotinho.

Ele disse que o texto do PMDB não "está cheirando mal". "É podre." "Todos os que estão presentes neste plenário, talvez salvo honrosas exceções, sabem muito bem o que está acontecendo nesta noite. E, para tudo na vida, há limites. Neste momento, por discordar da forma pouco republicana --eu diria nada republicana-- que esse assunto dos portos está sendo tratado".

A fala irritou o líder do PMDB que reagiu. "Acuse, mas mostre o que está acontecendo", disse Cunha. "Eu tenho coragem suficiente para qualquer embate, qualquer que seja. Ainda mais com pessoas que nós conhecemos o passado e que não têm credibilidade para falar de ninguém", disse o peemedebista.

Cunha anunciou que vai pedir ao Conselho de Ética que investigue as acusações. "É acusar e macular uma casa inteira. Que todos sejam responsáveis pelos seus atos e pelas suas palavras", disse.

ÉTICA

Garotinho voltou a tribuna e se referiu a Cunha apenas como "um deputado". Ele disse que está disposto a enfrentar o Conselho de Ética.

"Terei o maior prazer em dizer na Comissão de Ética o que sei sobre esta sessão. Se quiser, pode instaurar [o processo]. O deputado deveria primeiro cuidar dos seus problemas, que não são poucos, ao invés de usar a tribuna desta casa para fazer acusações levianas", afirmou.

O líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), também questionou a postura de Garotinho e cobrou que ele falasse o que sabia. Ele chamou o colega de "deputado patético". "Eu lamento muito ter que presenciar uma sessão patética como esta, provocada por um deputado patético, que não respeita ninguém e se acha superior".

Garotinho não se intimidou. "Se a carapuça serviu...", disse para Beto.

O presidente da Câmara, Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que essa foi uma das noites mais "constrangedoras" em mais de 40 anos de Casa. "Uma exposição que o plenário da Casa não merece."

Ele pediu que os líderes decidissem se a sessão deveria prosseguir ou não. Cunha disse que não votava mais nada, e o presidente encerrou a sessão.

MUDANÇAS

Nas negociações ao longo do dia, o PMDB não conseguiu acordo com o governo para emplacar mudanças no texto e apresentou uma sugestão ao lado do PSB, PDT e DEM.

O PT começou a trabalhar contra as mudanças patrocinadas pelo PMDB e passou a responsabilizar Cunha pela falta de entendimento.

A medida mais polêmica que o Planalto não aceita é fazer licitação para portos privados.

O líder do PT, José Guimarães (CE), disse que o texto do PMDB quebrava a espinha dorsal da MP enviada pelo governo e que passou pelas mãos do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM).


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