Folha de S. Paulo


IPCA de abril deve forçar revisão para inflação e juros, diz ex-diretor do BC

A alta inesperada da inflação medida pelo IPCA em abril aponta para mais uma alta de juros na próxima reunião do Banco Central e para revisões das projeções de economistas, avaliou o ex-diretor do BC e atual economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Tadeu de Freitas.

Em abril, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,55%, bem acima dos 0,47% de março e da expectativa do mercado (0,47%). No ano, a inflação acumulada é de 2,5% e em 12 meses, de 6,49%, divulgou nesta quarta-feira o IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística).

Análise: Desafio do governo é convencer que inflação vai ceder
Vídeo: Saiba como planejar investimentos em época de inflação em alta

Para Freitas, a partir da taxa de abril as projeções para a inflação do ano terão que ser revistas, assim como as previsões para a taxa básica de juros da economia, que deve fechar 2013 em 8%. A boa notícia é que a alta de preços está menos disseminada, como ocorreu me março.

*

Folha - A taxa do IPCA de abril surpreendeu o mercado?

Carlos Tadeu de Freitas - A expectativa era de que os alimentos caíssem, mas estão muito resistentes ainda. Ela ficou alta pelo fato de que tem serviços pesando bastante, e como já está pesando há algum tempo (8,07% em 12 meses), é muita coisa.

Por que essa resistência dos alimentos?

Tem um problema de demanda razoavelmente forte e, apesar das invenções todas que foram feitas, como a desoneração da cesta básica, o preço não caiu, mas pode ser que caia mais na frente.

A expectativa era de que alimentação caísse agora para compensar a alta dos serviços. Mas tem resistência de preços no varejo.

As previsões agora terão que ser revistas?

Isso nos leva à conclusão de que a inflação vai fechar o ano mais perto do 5,7% do que a 5,4%, como estava se pensando. Não que esteja disparando, mas ela está bastante resistente. A única notícia boa é que a inflação está menos espalhada.

Como assim?

A inflação está menos disseminada, como estava em março, o que é um bom sinal. E isso ocorre principalmente devido a uma queda dos bens de consumo duráveis, porque existe uma certa exaustão também na área de demanda.

As pessoas estão mais endividadas, o crédito está mais difícil, então as pessoas estão consumindo menos produtos duráveis. Os preços dos bens duráveis cíclicos, que dependem da renda, caíram de 0,47% em março para 0,13% em abril.

E como ficam os juros nesse contexto?

Para a política monetária isso quer dizer que o Banco Central vai ter mais alguns aumentos de juros por aí. Na próxima reunião deve ser de 0,25% de novo.

E a taxa de juros do final do ano, também terá que ser revista por conta disso?
O que ajuda esse ano ainda é o cenário deflacionário externo, que está muito favorável, porque tem produto sobrando, o que faz com que o Banco Central não tenha que aumentar tanto o juro neste ano.

Sobra produto no exterior porque a economia mundial está crescendo menos do que o esperado, a Europa, os Estados Unidos, o que vai levar o BC a elevar o juro no máximo para 8%, por causa do cenário externo, mas vai continuar subindo.


Endereço da página:

Links no texto: