Folha de S. Paulo


Análise: Desafio do governo é convencer que a inflação vai ceder

O tema inflação ocupa o centro do debate econômico há alguns meses.

A intensidade das discussões indica o tamanho da preocupação com o assunto.

Inflação oficial em abril supera expectativas de mercado
Alimentos e remédios pesam e IPCA sobe 0,55% em abril

O problema vai além do atual nível dos preços --muito próximo do teto do que o próprio governo definiu como limite aceitável-- e envolve principalmente as chamadas expectativas de inflação.

Parte importante do desafio do Banco Central é convencer a sociedade de que a inflação vai recuar (analistas falam da necessidade de "ancorar as expectativas").

Inflação é assunto polêmico, principalmente em países com histórico relativamente recente de descontrole de preços, como o Brasil.

Com a troca de guarda no Banco Central na passagem do governo Lula para o de Dilma Rousseff as discussões se tornaram mais acaloradas.

A gestão do BC durante os anos Lula ficou famosa pela baixa tolerância com qualquer sinal de alta de preços e de desvio das expectativas.

A nova administração demonstrou optar por uma postura de esperar um pouco mais para ver melhor.

A decisão que marcou a mudança de direção talvez tenha sido o corte de juros em agosto de 2011, quando economistas do mercado financeiro avaliavam que a inflação incomodava.

ACERTO

O BC usou o cenário externo ruim como justificativa. Meses depois, parecia ter acertado na mosca. A inflação recuou de 7,31% ao ano em setembro de 2011 para 4,92% em junho do ano passado, enquanto os juros caíram de forma significativa.

Desde então, no entanto, a inflação voltou a subir, em um cenário de atividade econômica interna muito fraca. O coro de economistas ortodoxos criticando a suposta leniência do BC com a inflação ganhou força.

Problemas de comunicação do governo com o mercado em relação ao tema colocaram mais lenha na fogueira.

Desde então, o governo adotou discurso que indica maior preocupação com o nível de preços.

As expectativas de inflação para o futuro não estão em nível preocupante, mas indicam descrença em relação à queda para o centro da meta oficial de 4,5%.

Contratos do mercado futuro que embutem expectativa de inflação revelam apostas por volta de 5,3% pelos próximos dez anos.

Mesmo com a atividade econômica fraca, o mercado de trabalho brasileiro continua aquecido.

Embora continuem ganhando da inflação, os reajustes salariais ocorridos nos primeiros quatro meses do ano revelaram certa perda de fôlego.

Mas a prova de fogo virá mesmo entre maio e junho quando a inflação ainda muito alta coincidirá com as negociações salariais de importantes categorias profissionais.

Em um cenário de reajustes em patamar ainda elevado, superando em muito o crescimento da produtividade (medida de eficiência da economia), novas rodadas de repasses para preços podem ter impacto sobre a inflação.

Se os novos acordos confirmarem a recente tendência de desaceleração, a pressão inflacionária tende a ceder. Mas, para isso, a batalha pelo controle das expectativas será fundamental.

Editoria de Arte/Folhapress


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