Folha de S. Paulo


Procura por crédito deve cair mesmo com melhora na inflação em 12 meses

Apesar de os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) em abril terem revelado uma desaceleração da inflação em 12 meses, a procura dos consumidores por crédito deve continuar caindo ao longo do ano, segundo especialistas consultados pela Folha.

Isso porque o Banco Central iniciou no último mês um novo ciclo de aumento na taxa básica de juros, a Selic, que subiu de 7,25% para 7,5% ao ano. Foi a primeira vez que a Selic sofreu aumento desde 21 de julho de 2011, quando havia passado de 12,25% para 12,50% ao ano.

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Com os juros maiores, sobem também os custos dos financiamentos, reduzindo a capacidade de compra dos consumidores e, consequentemente, a menor demanda acaba diminuindo os preços dos produtos no mercado brasileiro.

"Quando o Banco Central eleva os juros, ele certamente não está preocupado com a inflação de curto prazo. É uma medida que começa a fazer efeito em cinco ou seis meses, pelo menos", diz Priscila Godoy, economista da consultoria Rosenberg & Associados.

Por esse motivo, mesmo com a inflação menor em 12 meses, o BC não só deve manter o ciclo de aperto monetário (aumento no juro básico) como também pode reavaliar se amplia o ritmo de alta da Selic, segundo Priscila.

"A preocupação da autoridade monetária é com sua credibilidade, por isso o BC deve agir para evitar que a inflação se distancie da meta do governo --de 4,5% ao ano, com margem de dois pontos percentuais para baixo e para cima. O Boletim Focus dessa semana já mostrou que o mercado espera uma inflação maior no ano que vem. Isso deve preocupar o BC."

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, concorda que a tomada de crédito deve ser menor para que os preços possam voltar a um patamar confortável no Brasil, mas não acredita que o aumento da Selic seja a melhor opção do BC para isso, uma vez que os juros maiores também desaceleram a atividade da indústria e o ritmo de crescimento do país.

"O Japão e os EUA estão comprando títulos para estimular o mercado, a Europa está cortando juros, mas, aqui, iniciamos um ciclo de alta da Selic. Não pode ser assim. Para combater os preços, o BC tem que adotar medidas macroprudenciais, como a menor concessão de crédito pelos bancos públicos, por exemplo."

Segundo Perfeito, a inflação deve, aos poucos, deixar de ser o grande problema macroeconômico do Brasil. "Isso porque o aumento da Selic, ao que tudo indica, foi um equívoco, já que a economia está desacelerando."

JUROS A PESSOAS FÍSICAS

Especialistas ouvidos pela Folha destacam que o juro cobrado de pessoas físicas é bem mais alto que a Selic e que é preciso ter cuidado para não perder o controle.

As tabelas a seguir, feitas pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), trazem alguns exemplos de taxas de empréstimos com o juro básico atual.

TAXA DE JUROS A PESSOA FÍSICA

Linha de crédito Taxa ao mês, com Selic em 7,50% ao ano
Juros comércio 4,02%
Cartão de crédito 9,39%
Cheque especial 7,74%
CDC -bancos- financiamento de automóveis 1,54%
Empréstimo pessoal -bancos 2,93%
Empréstimo pessoal-financeiras 6,90%
Taxa média 5,42%

EXEMPLOS DE IMPACTO EM FINANCIAMENTO

Compra de geladeira de R$ 1.500 em 12 parcelas

Selic, em % ao ano Juro mensal, em % Valor da parcela, em R$ Total pago, em R$
7,5 4,02 160,01 1.920,17

Compra de veículo de R$ 25 mil em 12 parcelas

Selic, em % ao ano Juro mensal, em % Valor da parcela, em R$ Total pago, em R$
7,5 1,54 641,38 38.482,90

Empréstimo pessoal de R$ 500 em financeira em 12 parcelas

Selic, em % ao ano Juro mensal, em % Valor da parcela, em R$ Total pago, em R$
7,5 6,9 62,62 751,39

Para William Eid, professor de finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), é vantajoso pagar à vista, negociando descontos sempre que possível.

"Quando se pretende comprar um bem de consumo durável, como uma geladeira, o melhor é se programar, abrir uma poupança e guardar dinheiro até conseguir comprar o produto", afirma.


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