Folha de S. Paulo


Veja como os dados de inflação afetam seus investimentos

Em abril, a inflação oficial no Brasil em 12 meses voltou para dentro da meta do governo, cujo teto é de 6,5% no ano. Esse desempenho, contudo, foi menor do que o mercado esperava e pode favorecer um ciclo maior de avanço da taxa básica de juros nacional, a Selic, afetando o cenário para os investimentos.

Com os juros em alta, as aplicações em renda fixa, cujos papéis remuneram levando em conta a Selic, voltam a ficar mais atraentes. Por outro lado, a medida estimula uma desaceleração do crescimento econômico, o que acaba sendo refletido negativamente na Bolsa da Valores.

Vídeo: saiba como planejar investimentos em época de inflação em alta
Procura por crédito deve cair mesmo com melhora na inflação em 12 meses

"A inflação é o principal fator considerado pelo BC em suas atuais decisões de política monetária. Mesmo tendo desacelerado no mês passado, as perspectivas de longo prazo ainda são preocupantes", avalia Priscila Godoy, economista da consultoria Rosenberg & Associados.

O último Boletim Focus, levantamento feito semanalmente pelo Banco Central com cerca de 100 instituições financeiras, mostrou que o mercado elevou sua projeção para a inflação no país no próximo ano.

Segundo a economista, o BC não quer perder credibilidade deixando a inflação se distanciar do teto da meta no longo prazo. Por isso, no mês passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou a Selic pela primeira vez desde 21 de julho de 2011, levando a taxa para 7,5% ao ano.

"A alta da Selic é uma medida que começa a fazer efeito em cinco ou seis meses, pelo menos", explica Priscila. "Com os juros mais altos, o governo acaba restringindo a tomada de crédito, o que diminui o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, a menor demanda reduz os preços dos produtos."

Editoria de Arte/Folhapress

INVESTIMENTOS

Mesmo com cenário de aumento nos juros, especialistas lembram que também há boas oportunidades na Bolsa, mas é preciso garimpar as melhores opções. "Existem setores voltados ao mercado brasileiro que estão tendo um desempenho positivo e deverão manter esse ritmo, mesmo com o ciclo de alta da Selic", avalia Pedro Galdi, da SLW Corretora.

É o caso do setor de educação e saúde, por exemplo, segundo Galdi. "O setor de concessões rodoviárias, também tem boa perspectiva por causa dos projetos para a Copa do Mundo", lembra. "É preciso considerar outras variáveis na Bolsa além da Selic."

Na renda fixa, especialistas apontam que o cenário de alta da Selic é propício para que o investidor troque os papéis prefixados por pós-fixados.

Os títulos prefixados, como as LTNs (Letras do Tesouro Nacional), têm uma rentabilidade predeterminada. Ou seja, quem aplica já sabe quanto receberá no vencimento do contrato. Nos pós-fixados, como as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional da Série B), a remuneração não é definida de antemão.

Para Luiz Monteiro, especialista em renda fixa da gestora Queluz, as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) são uma boa opção de títulos pós-fixados, uma vez que o rendimento é atrelado a indicadores econômicos, como a própria Selic. Portanto, se o índice sobe ou cai, os papéis seguem essa variação na remuneração ao investidor.

"O tamanho do ciclo de aperto monetário não importa nesse caso, mas, sim, o fato de que se iniciou um período de juro básico maior", disse Monteiro.

No câmbio, dados internos como a inflação possuem menos peso na cotação do dólar, mas, segundo Reginaldo Galhardo, gerente da Treviso Corretora, eles são monitorados pelo mercado, uma vez que seus resultados influenciam nas decisões do governo sobre a economia.

"O governo tem atuado em uma série de mercados para controlar a inflação, inclusive no câmbio. O ministro Mantega (Fazenda) já disse que o atual nível do dólar, a R$ 2, é confortável para a inflação no país. O mercado acaba controlando suas operações para que a moeda oscile próxima a este patamar para não correr o risco de uma nova interferência do BC."


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