Folha de S. Paulo


Análise: Indústria cresce agora, mas é difícil haver bons resultados futuros

O resultado da indústria deixou um cheiro de que "agora vai" no ar. Os números negativos continuam negativos, mas em proporção menor, vide a pequena queda de 0,5% no primeiro trimestre contra o mesmo período do ano anterior.

Isso ajudará muito pouco no PIB, que deve crescer magros 1,8% na mesma comparação e parcos 2,5% no ano. Mas por que números tão baixos ainda?

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Ainda há certa concentração na recuperação, especialmente nos setores de caminhões e tratores. Para os primeiros continuam valendo os efeitos estatísticos de um 2012 muito fraco por mudanças na configuração dos motores usados. Para tratores, vale o efeito da supersafra e da observação cada vez mais óbvia de que resta apenas a agropecuária como setor competitivo no país.

Além disso, a indústria começa a ter leve recuperação em um momento de comércio começando a fraquejar e cenário internacional ainda de lado, especialmente com dados ambíguos na economia americana, sem falar na Europa que continua em crise. As desvalorizações no Japão, que podem instigar desvalorizações em outros países asiáticos, dificultam ainda mais nossas exportações.

Aqui na América do Sul, dois parceiros importantes para nossas exportações de manufaturados, Argentina e Venezuela, devem ter ano de crise. Vale lembrar que a Argentina está com o câmbio paralelo passando de 70% de diferença em relação ao oficial. Uma mega depreciação por aquelas bandas não pode ser descartada ainda este ano.

Isso sem falar que México tem grande potencial de ganhar mercado em cima do Brasil. Basta dizer que o custo unitário do trabalho naquele país já se iguala ao chinês.

E, por fim, a cereja do bolo, é que a indústria brasileira continuará sendo pouco competitiva pelos velhos problemas de sempre, desde o custo do trabalho proibitivo até a infraestrutura em crise sem fim.

Com essa barafunda de problemas, é difícil esperar bons resultados não apenas para 2013, mas a perder de vista. Mudar esse cenário demandará uma mudança radical de política econômica, que, infelizmente, não deve acontecer.

SERGIO VALE é economista-chefe da MB Associados


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