Folha de S. Paulo


Estudo falho de Harvard foi justificativa para políticas de corte de gastos

Para Michael Ash, um dos autores do estudo que apontou os erros de Carmen Reinhart e Ken Rogoff, chegou a hora de repensar as políticas de austeridade adotadas nos EUA e na Europa.

O estudo foi usado por vários líderes para legitimar as políticas de cortes de gastos. Em fevereiro de 2010, George Osborne, que se tornaria o ministro da Fazenda do Reino Unido, citou Reinhart e Rogoff várias vezes no discurso em que propunha política contracionista.

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"Como Rogoff e Reinhart demonstram de forma convincente, todas as crises financeiras em última instância se originam no crescimento rápido do endividamento", disse. "Uma vez que a dívida atinge 90% do PIB, os riscos de um grande impacto negativo no crescimento se tornam significativos."

A chapa republicana à Presidência dos EUA citou Rogoff em sua proposta de orçamento austero. E Ollie Rehn, comissário europeu de assuntos econômicos, disse em um discurso em junho de 2011 que a conclusão dos dois era "particularmente relevante em um momento em que os níveis de endividamento na Europa estão se aproximando do limiar de 90% do PIB".

Vito Tanzi, um dos maiores especialistas do mundo em questões fiscais, disse à Folha que Rogoff e Reinhart cometeram "um enorme erro ao identificar um número preciso para o nível de endividamento". "A Argentina quebrou em 2001 quando sua dívida era de 40% do PIB, e o Japão tem endividamento de 250% e não quebrou ainda."

Segundo Tanzi, RR usaram a "Lei da Tortura" em seu estudo. "Se você torturar os dados o suficiente, eles sempre dizem o que você quer."

(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)


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