Folha de S. Paulo


Autores de estudo falho dizem que debate sobre economia tornou-se 'simplista'

Os economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart afirmam agora que o debate sobre a economia global se tornou excessivamente simplista, sem propor soluções para os países escaparem da crise.

Os dois viraram alvo de críticas nos últimos dias após pesquisadores descobrirem falhas metodológicas em seu estudo Crescimento em Época de Endividamento.

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Segundo eles, a discussão atual não deveria ser entre austeridade total ou gastos descontrolados. Defendem que governos dispõem de uma série de ferramentas, algumas de austeridade, outras de expansão, para estimular o crescimento.

Rogoff e Reinhart, em artigo publicado no "Financial Times", dizem que embate atual ignora tanto os riscos de um endividamento alto --reflexo de gastos excessivos-- quanto os perigos de uma recessão que a austeridade pode causar.

Contra os gastos, afirmam que a dívida pública de muitos países está acima dos níveis pré-Segunda Guerra, mas sem os estímulos que o fim do conflito gerou --por exemplo, com ex-soldados ingressando em atividades produtivas.

Já contra a recessão, dizem que gastos com empréstimos para financiar a infraestrutura ajudam a aumentar o crescimento de longo prazo, o que reduz a relação dívida/PIB.

FERRAMENTAS

Os dois economistas sugerem quatro ferramentas para estimular o crescimento: perdão de dívidas, repressão financeira, reforma estrutural e até a indução de uma inflação entre 4% e 6% ao ano.

Rogoff e Reinhart defendem que, em alguns casos, o perdão de dívidas de bancos e de países é menos danoso do que a absorção dos débitos pelos governos.

Ainda segundo eles, a repressão financeira --o aumento da arrecadação com impostos mascarados em fundos de pensão e bancos-- ajudaria a equilibrar as contas públicas.

Uma inflação de 4% a 6% reduziria a dívida pública e privada, acelerando a queda nos custos de imóveis, o que compensaria o prejuízo à credibilidade dos bancos centrais.

Por fim, acham que vale investir em uma reforma estrutural, que simplifique a legislação tributária, o que poderia aumentar a arrecadação e ajudar no equilíbrio das contas públicas.

JUROS

Os economistas ainda avaliam que não há, até agora, uma explicação sobre a queda abrupta nos juros, nem previsão de até quando essa situação irá durar.

Um futuro aumento nos juros, dizem, aumentaria ainda mais a dívida dos países. E a dívida alta inibiria o crescimento, prejudicando o combate à crise.

Os autores não recomendam, no entanto, a redução, nem mesmo a estabilização, do endividamento dos países até que o crescimento tenha se fortalecido. Para eles, estímulos devem ser feitos "seletivamente" e com o "cuidado necessário".

(ROBERTO SZATMARI)


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