Folha de S. Paulo


Vale tem lucro de R$ 6,2 bi no 1º trimestre, com queda de 7,5%

Após registrar o pior trimestre de sua história, o desempenho da Vale reagiu e a mineradora obteve lucro de R$ 6,2 bilhões de janeiro a março deste ano. A cifra é, porém, 7,5% inferior ao resultado do mesmo período de 2012, quando a mineradora lucrou R$ 7,1 bilhões. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (24).

No quarto trimestre de 2012, a companhia teve prejuízo de R$ 5,628 bilhões em razão da depreciação de ativos (reavaliados para baixo) e do câmbio desfavorável.

Considerando o ano de 2012, a empresa viu seu lucro cair 74,3% em relação ao de 2011, para R$ 9,7 bilhões, em um cenário de de produção estagnada, preços menores, consumo mundial retraído (especialmente da China), pagamento extra de tributos e rebaixamento do valor de ativos.

Foi o pior desempenho desde 2004. O tombo de 2011 para 2012 superou a redução do lucro da Petrobras (36%). O ano de 2011 foi o melhor da história para as finanças da mineradora, que teve lucro de R$ 37,8 bilhões.

Num cenário de preços mais altos do minério de ferro, a Vale registrou um faturamento de R$ 21,8 bilhões de janeiro a março, acima dos R$ 20,4 bilhões em igual período de 2012. No período, o Ebtda (indicador que mede a capacidade de geração de caixa) ajustado somou R$ 10,4 bilhões, com alta de 14,4% ante o primeiro trimestre de 20012. Trata-se do melhor desempenho para os três primeiros meses do ano.

Segundo a Vale, houve no primeiro trimestre redução de custos e despesas, o que levou à melhora do resultado. Além disso, diz a mineradora, destaca-se o crescimento da produção dos chamados metais básico, em especial cobre e níquel.

Tal expansão compensou a queda da produção de minério de ferro, que, sazonalmente, é sempre mais fraca de janeiro a março por conta das chuvas mais intensas.

"Os preços realizados do minério de ferro aumentaram, porém o acréscimo foi suavizado pela queda significativa dos preços de contratos baseados na média dos índices de preços do trimestre passado com um mês de defasagem", informou a empresa.

Em relatório que acompanhou o balanço do primeiro trimestre deste ano, a empresa afirmou que, " apesar do progresso alcançado, ainda há um longo caminho na reformulação da estrutura de custos para que [a companhia] seja capaz de criar valor ao acionista através dos ciclos, atenuando a influência da volatilidade dos preços."

PAÍSES

Segundo o balanço, as vendas para a China responderam por 39,6% da receita total da Vale no primeiro trimestre de 2013.

As vendas para o Brasil vêm em segundo lugar, com 18,8% da receita, seguido por Alemanha (6,1%), Japão (4,5%), Coreia do Sul (3,2%) e Estados Unidos, (2,8%).

Os embarques para a Ásia representaram 51,3% da receita total no período, abaixo dos 58,5% registrados no quarto trimestre de 2012 e dos 53,4% dos três primeiros meses de 2012.

"A Europa retornou à níveis normais, com 18,5% contra 15,5% no trimestre anterior, devido ao aumento das vendas à França e Itália. A receita dos embarques para o Oriente Médio foi 3,1% da receita total e o resto do mundo contribuiu com 1,1%", informou.

2012

No ano passado, a Vale "tirou esqueletos do armário" e quitou débitos cobrados pela União --R$ 3,3 bilhões até então contestados na Justiça.

A mineradora revisou ainda para baixo o valor minas e unidades de produção de alumínio, níquel e outros ativos (perda de R$ 13,2 bilhões) e sofreu com impacto negativo do câmbio (R$ 4,1 bilhões). Boa parte do prejuízo foi assumido no quarto trimestre.

Excluídos esses "efeitos contábeis" que, segundo a Vale, não irão se repetir, o lucro de 2012 foi R$ 22,2 bilhões --pior desempenho desde 2009, pico da crise global.

Sem ampliar sua produção desde 2008, a Vale perdeu mercado para suas concorrentes australianas (BHP e Rio Tinto), que abriram minas e ampliaram a oferta de minério de ferro. Em 2012, a extração da Vale caiu 0,8%.

Além disso, o menor consumo derrubou as cotações do minério de ferro e deixou os preços voláteis.

O presidente da empresa, Murilo Ferreira, afirmou no fim do ano que a companhia estava mais seletiva em projetos e investimentos e se esforçava para apresentar seus números de modo mais "transparente e justo" --em referência à reavaliação do valor dos ativos.

INVESTIDORES

Após anúncio de forte queda dos lucros ou de prejuízo de uma empresa, é comum ocorrer uma queda generalizada das ações da companhia.

Isso acontece porque vender os papéis costuma ser o primeiro impulso de muitos investidores nessas situações, principalmente os pequenos, afirmam especialistas, que também fazem um alerta: agir pela emoção não é a melhor saída.

"O investidor que tem condições de deixar o dinheiro investido em um prazo mais longo, o que é o ideal para quem está na Bolsa, deve verificar se existe potencial de lucro da empresa após o prejuízo. Se houver chance de isso acontecer, o recomendável é permanecer com ação", diz o educador financeiro Mauro Calil.

Isso porque, se esperar uma recuperação e ela ocorrer, o aplicador reverte as perdas do momento.

"No caso da Vale, o investidor que tem o papel da empresa há anos provavelmente tem um preço médio menor do que R$ 15 ou R$ 10. Suponhamos que ele receba dividendo de R$ 2, isso equivaleria a 20% de um preço médio de R$ 10, por exemplo. Então, ele não precisa se preocupar com o valor do papel em si, mas, sim, com a perpetuidade do lucro", afirma Calil.

Para Valter Police, planejador financeiro pessoal, o investidor tem de entender que as empresas passam por momentos bons e ruins, não sendo necessariamente recomendável a venda das ações na iminência de sinais de um período negativo nos negócios.

"Nenhuma empresa tem trajetória linear, ela vai ter meses melhores e piores. Vender quando a ação está em baixa e comprar quando a ação está em alta é o mesmo que querer ter perdas. O ideal é acompanhar essa companhia e ter suas perspectivas sobre a empresa. Só assim o investidor consegue projetar os rumos dos negócios e avaliar se fica ou não com as ações", diz Police.


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