Folha de S. Paulo


Pacote para setor de etanol não garante redução no preço, diz Dilma

O pacote de benefícios para o setor sucroalcooleiro não é garantia de redução no preço do combustível. A afirmação é da presidente Dilma Rousseff, que disse nesta terça-feira (23) não ser possível prever como o mercado vai reagir às medidas do governo.

"Eu não creio que seja uma decisão que eu posso tomar aqui [redução do preço nas bombas]. Eu chego aqui pra vocês e digo: o preço vai ser assim ou assado. Tem de ver como é que está o mercado. Eu não tenho como adiantar isso pra vocês", disse a presidente logo depois de visitar uma exposição no Palácio do Planalto.

O Executivo zerou a cobrança de PIS/Cofins sobre o combustível, hoje equivalente a R$ 0,12 por litro de etanol. A renúncia fiscal com o fim do tributo será de R$ 970 milhões em 2013.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) também não garantiu o repasse dos preços ao consumidor. "Não quer dizer que o setor vai repassar necessariamente. Estamos condicionando [os incentivos] ao aumento da oferta, porque aí o preço vai ser reduzido."

Dilma disse ainda que o governo vai aumentar de 20% para 25% a proporção da mistura de álcool anidro na gasolina porque a produção de etanol foi maior e porque é "um mecanismo muito tranquilo de regulamentação".

"Temos condições de fazer isso mesmo porque a área plantada de etanol está se expandindo esta a uma taxa de 8 a 10%. A safra 2012/2013 é muito boa. Tem expansão de mais de 10%. Mas ainda não se concluiu", disse Mantega. "Com isso nos teremos etanol suficiente para viabilizar esse aumento [do percentual do álcool] na mistura da gasolina."

Para Dilma, o mais importante é dar ao consumidor a opção de encher o tanque com etanol ou gasolina. Para saber com qual combustível vale a pena abastecer, na média basta multiplicar o preço da gasolina por 0,7. Se o valor for inferior ao do etanol, a gasolina costuma ser mais vantajosa; do contrário, o etanol é o mais indicado.

A conta, porém, podem variar de carro a carro. "Às vezes, o preço compensa e, às vezes, não compensa. O fato de ser flexível é que justifica, hoje, nós termos dado um passo em direção à estabilidade desse setor", disse a presidente.

O motivo de Dilma querer reforçar o setor, segundo ela, é que o etanol tem um significado muito grande por ser "renovável", "amigável do ponto de vista da emissão" e representar não apenas um segmento agrícola, com a plantação de cana de açúcar, como também o industrial, com as indústrias de etanol.

"Por isso o Brasil tem hoje a possibilidade de ter, e acredito que teremos cada vez mais, um setor de etanol que vai ter dupla função: produzir para o mercado doméstico, mas tem todas as condições também de exportar para o mercado internacional porque a produtividade da nossa agricultura, quando se trata de cana-de-açúcar, é extremamente elevada, se comparada a outras fontes. E também nossas usinas. Nós temos usinas modernas que são extremamente eficientes. Então esse é um setor que veio para ficar e [que] nós temos que volta e meia revisitar para ver o que pode ser feito para dar suporte para os nossos produtores".

INFLAÇÃO

Dilma também foi questionada se a trajetória dos juros hoje é crescimento. Ela se recusou a falar sobre inflação.

"Não vou falar sobre coisas que não quero ver distorcidas", disse, sem citar o episódio da África do Sul no final de março.

Na ocasião, a presidente afirmou não acreditar numa política de combate a inflação que comprometesse o crescimento do país. O mercado financeiro interpretou a fala como leniência em relação ao combate às altas dos preços. A presidente reagiu dizendo que houve "manipulação" de sua fala e que "o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do governo".

Nesta terça, Dilma, inicialmente, falou apenas sobre inflação. "O que eu estou dizendo é isso: o Brasil não flerta com a inflação, nem querendo".Mas, diante da insistência de repórteres, Dilma disse que "o Brasil é um país que conseguiu, através de um grande esforço, atingir um patamar de estabilidade macroeconômica". Segundo a presidente, "somos hoje um país bastante estável" do ponto de vista das contas públicas, se comparado com a atual situação internacional.

"Por exemplo, nós não tivemos que fazer nenhum corte drástico como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos. Temos uma relação dívida-PIB das mais baixas do mundo. O Brasil hoje é uma economia robusta, isso não significa que os responsáveis não estejam atentos a todas as características da economia, aumento do investimento, olhar como se dá nossa necessidade."


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