Folha de S. Paulo


Juros futuros fecham em queda, em ajuste à alta menor que a esperada para a Selic

A alta de 0,25 ponto percentual na Selic, anunciada ontem pelo Banco Central, foi menor do que o aumento de 0,5 ponto percentual antecipado pelo mercado ao longo da última semana nas taxas dos contratos de juros futuros negociadas na BM&FBovespa.

Em movimento de ajuste à medida do BC, os contratos de juros futuros registraram queda nesta quinta-feira (18). O contrato mais negociado, com vencimento em julho de 2013, mostrou baixa de 3,08%, projetando taxa de 7,40% ao ano, ante os 7,63% registrados ontem.

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O contrato de DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2014 também registrou queda, de 4,86%, projetando taxa de 7,83% ao ano.

Os contratos de DI com prazos mais longos também mostraram quedas em relação ao fechamento de ontem. A taxa para janeiro de 2017, por exemplo, ficou em 8,98% ante 9,18% ontem.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo especialistas consultados pela Folha, o aumento da Selic para 7,5% ao ano pode ter sido uma saída estratégica encontrada pelo Banco Central para não trazer preocupação ao mercado.

"Esse aumento não dá conta de frear a inflação, até porque os efeitos de um aperto monetário costumam demorar mais ou menos seis meses para serem sentidos, mas tem um efeito psicológico no mercado", diz Elad Revi, analista da Spinelli Corretora.

O analista avalia que era pouco provável a chance do BC aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual ontem, uma vez que a autoridade não quer "assustar o mercado."

"Se ele fizesse isso, poderia passar uma visão de descontrole entre os investidores. Tem que fazer o aumento dos juros de forma gradual. Não adianta ele aumentar muito a Selic, pois os consumidores vão acabar perdendo o poder de compra e isso vai prejudicar muito a economia, que já está fragilizada."

Segundo Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros, a alta anunciada pelo BC ontem foi "apenas para dizer ao mercado: 'estamos aqui e, se for preciso, vamos atuar.'

Diante da decisão do BC, os especialistas começam a trabalhar com dois cenários prováveis para o novo ciclo de alta da Selic, ambos dependendo do comportamento da inflação.

"Caso a inflação mostre algum recuo em 12 meses no curto prazo, eu imagino que o BC deve fazer mais quatro elevações de 0,25 ponto percentual na Selic em suas próximas reuniões", diz Revi, da Spinelli.

O analista revela, contudo, que a autoridade também pode adotar uma postura mais agressiva nas reuniões de maio e julho, elevando a Selic em 0,5 ponto percentual em cada encontro, caso a inflação oficial do país persista em se distanciar do teto da meta do governo, de 6,5% para 2013.

No mês passado, a inflação acumulada no país ultrapassou o limite da meta do governo ao subir 6,59% em 12 meses.

De qualquer forma, mantém sua aposta que a Selic vai fechar este ano em 8,5% ao ano. Já Vieira, da Souza Barros, acredita que a taxa deve ficar em 8,25% ao ano.

A PASSOS LENTOS

A equipe da Bradesco Corretora vê um ciclo de aperto monetário a passos lentos, com mais três altas de 0,25 ponto percentual na Selic, levando a taxa a fechar 2013 em 8,25% ao ano.

Para Octavio Barros, diretor de pesquisa e estudos econômicos da Bradesco Corretora, essa perspectiva decorre do comunicado do Copom divulgado ontem.

"A essência desse comunicado é, a meu ver, reveladora. Ao destacar as incertezas relevantes para o cenário prospectivo de inflação, 'principalmente' as externas, o Banco Central sinaliza que os dados ganham força a cada reunião e que, como plano de voo inicial, pretende fazer ajustes pequenos", disse em nota.

Segundo Barros, o efeito disso é que a autoridade monetária ganha flexibilidade para suas próximas decisões, inclusive para interromper o ciclo, se for preciso.

"A decisão tomada ontem demonstra que a autoridade monetária brasileira está atenta aos riscos inflacionários, mas que também reconhece que há vetores desinflacionários relevantes."

(ANDERSON FIGO)


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