Folha de S. Paulo


Análise: Trabalho envolve outros riscos além de fadiga e sono ao volante

Os estudos mostram que as causas primordiais de acidentes em nossas rodovias são a fadiga do motorista, responsável por 18% dos acidentes, e o sono, em 42% dos casos.

Ou seja, a falta de descanso dos motoristas, de que trata a lei 12.619, está relacionada a 60% de todos os nossos acidentes --uma estatística alarmante.

Empresas querem mudar lei que impõe descanso a caminhoneiros

Outro número interessante: 93% dos acidentes na estrada são por falha humana. Pode parecer paradoxal, mas envolvem mais os motoristas profissionais.

A discussão não pode se limitar à fadiga e ao sono. Motoristas de caminhão estão expostos à alimentação de rua, ao estresse psicológico e social, ao isolamento da família, ao medo de sofrer acidente, de causar dano a terceiros e ao patrimônio, de ser assaltado, sequestrado e até morto. O trabalho é repetitivo, há risco ergonômico.

A manutenção do veículo nem sempre é a ideal. A vibração e o ruído constantes são uma agressão física ao motorista, e ele ainda está sujeito a variações térmicas e climáticas, a risco químico pela exposição a gases, poeiras, fuligem ou produtos que possa estar transportando.

Além disso, é importante citar o risco biológico: doenças endêmicas, infectocontagiosas e tropicais nas diversas regiões por onde transita.

A lei nº 12.619 definiu que, para cada quatro horas de trabalho, haja uma pausa de 30 minutos. É justo reduzir a carga horária do caminhoneiro, mas é possível questionar se a meta será cumprida, pois a lei permite que as quatro horas se repitam, desde que com intervalos. É difícil imaginar que, assim, jornadas longas deixarão de existir.

DIRCEU RODRIGUES ALVES JÚNIOR, médico, é diretor do departamento de medicina ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego.


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